terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Planos para 2008, parte 2


Não adianta pensar... continuo sem muitas respostas.

Férias finalmente chegando, mas com certas pendências chatas de trabalho pra serem resolvidas até quinta-feira. Diários de classe burocratas, relatórios inúteis e a supervisora de ensino querendo que o grupo de professores promova para o ensino médio alguns alunos que simplesmente não fizeram nada o ano inteiro, alguns deles mal sabem ler e escrever direito, e também não se interessaram em aprender. Mas é claro: se o Corinthians foi rebaixado para a segunda divisão, a culpa é de quem mesmo? É dos professores!! Se o rei da Espanha dirigiu um sonoro "porque no te callas?" para o boca-aberta do Hugo Chaves, a culpa é de quem? Adivinhões!! Dos professores, obviamente!


Nem é preciso dizer que esses alunos forem aprovados, ficaremos todos desmoralizados perante os outros alunos que ralaram o ano todo para passar e estaremos passando também a seguinte mensagem subliminar pra os que virão da sétima para a oitava: "aqueles lá não estudaram o ano inteiro e passaram mesmo assim, por que é que vou me esforçar?"


Enfim, são coisas de Brasil. Quem sabe um dia eu possa declarar o meu amor pela profissão de peito aberto de verdade.


Ontem rolou a festinha de confraternização na escola, com direito ao clássico churrasco com cerveja, videokê, e uma brincadeira de amigo secreto maluca, em que se você não gostar do presente que ganhar, pode trocar pelo presente do outro, sem que o outro faça a troca por livre e espontânea vontade. O chapéu de trilha que levei pra presentear bateu recorde de ibope abaixo de zero, mas levei o troco, tirei uma camiseta azul-celeste tamanho gg, mas no final consegui trocar por um lindo jogo de toalhas de banho amarelo-sol. Foi divertido, dei show com Pétala do Djavan no videokê e desafinei com Flor de Liz, do mesmo cantor.


Planos para 2008. A tão esperada listinha das dez coisas que quero fazer o ano que vem. Espero realizar pelo menos 50%. Lembrando que isso de fazer planos ainda soa um pouco estranho pra mim, que há tempos venho vivendo na base do deixe a vida me levar. Mas vamos lá:


Primeiro: trabalhar mais pra juntar dinheiro pra poder sair da casa dos pais em 2009. Não tem muita opção pra mim que não seja dar aula. Então já até corri atrás de inscrição pra entrar como eventual no estado o ano que vem.


Segundo: Fazer um curso de natação. Depois que a gente passa dos 30 tem que correr atrás de praticar algum esporte pra manter o corpinho de 25, já que a lei da gravidade é implacável.


Terceiro: montar um bom projeto de mestrado. Mesmo que eu não comece ainda o mestrado, é importante ter um bom projeto e entrar em contato com os professores que podem orientar a pesquisa.


Quarto: me dedicar um pouco mais ao trabalho. Preciso aprender finalmente a gostar dessa profissão tão nobre. O desafio maior vai ser me dedicar sem me estressar. É possivel?


Quinto: pra compensar o estresse inevitável da dedicação ao trabalho do tópico anterior, sair muito, muito, mas sem gastar muito de preferência. Se possível, fazer mais daquelas viagens curtas de três, quatro dias pro litoral ou pro interior, pra se desligar do mundo, e dá-lhe carteirinha de alberguista.


Sexto: beber menos, porque esse ano bati meu recorde de bebedeiras. Reduzir esse recorde pela metade vai ser a minha meta pro ano que vem.


Sétimo: fumar menos. Ou melhor, reduzir a média diária de 10 para 5 cigarros. Vou até tomar um remedinho pra inibir a vontade de puxar uma fumacinha (de nicotina, tá!?)


Oitavo: fazer um curso de violão pra aprimorar o talento natural ( modesta!!). Isso é algo que tô com vontade de fazer faz tempo, mas ainda não tive vergonha na cara o suficiente para levantar minha bunda acomodada do lugar para correr atrás.


Nono: nonononono, rs. Parar de roer as unhas De UMA VEZ POR TODAS, porque esse ano, eu só parei em ocasiões especiais e para fazer média, tipo no casamento da minha irmã.


Décimo: amar muito, muito, muito, todos os dias e de todas as formas (e posições, hehe!) porque sem amor é impossível cumprir qualquer meta na vida. Falo de todos os tipos de amor! Quero amar muito mais a minha família, meus amigos, meu amor... All you need is love!


P.S.: Vou deixar claro que todas essas metas (exceto a décima, claro) vão passar a valer só a partir de fevereiro, mais especificamente, depois do carnaval, principalmente a meta número 6.


Até mais e se eu não voltar mais por aqui esse ano, feliz Natal e um 2008 cheio de realizações!!










quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Balanço crítico de 2007 e planos para 2008 - Parte 1


É sempre bom, quando chega o fim do ano, fazer um balanço de tudo o que aconteceu pra saber se o saldo foi positivo ou negativo. De certa forma já fiz isso no post anterior (bota anterior nisso, porque quase larguei o blog às moscas!).

Ano conflituoso em vários aspectos, mas acho que no final das contas, o saldo foi sim bastante positivo, como já foi dito.

O que foi ruim: profissionalmente rendi menos do que no ano passado, mas curiosamente, me estressei menos também. Será que isso quer dizer alguma coisa? Será que me estressei menos porque me acomodei com a situação tal qual ela se apresenta?

Fui a um show do Teatro Mágico sábado (mais um!) e me deparei com uma das novas camisetas da trupe sendo vendidas na lojinha com os seguintes dizeres: "Não acomodar com o que incomoda", trecho que faz parte da canção "criado-mudo", que estará no próximo trabalho deles.

Existem situações que não me incomodam mais, talvez por isso tenha me acomodado. Mas e as coisas que incomodam ainda dentro da profissão? Vou ficar perigosamente acomodada a elas? E o meu papel crítico e ético como professora, onde fica? Vou ser uma mera "criada-muda" da prefeitura de São Paulo ou vou fazer a diferença de uma vez por todas? É pra se pensar.

Vale a pena arriscar a saúde em nome de um ideal ou abrir mão de um ideal pra preservar a saúde física e mental?

Aff!! Só perguntas e nenhuma resposta, acho que em 2008 continuarei confusa...


continua...

quarta-feira, 28 de novembro de 2007


Nossa, abandonei o blog! Parece que só venho aqui quando a coisa fica estranha na minha vida. Agora que estou feliz de morrer, parece que me faltam palavras pra dizer. Comecei o ano sem vida social, com uma dúvida cruel na cabeça, sentindo o coração murcho de tanto não me apaixonar por ninguém, cansada de tanto ter sofrido na escola em que trabalhei no ano passado, e sem plano na vida. Agora chego ao final do ano tão lotada de coisa pra fazer no final de semana que tem coisa que não dá tempo de fazer e acaba ficando pra semana, e haja falta abonada. Fiz poucos, mas ótimos amigos. Vivi dois grandes amores. O primeiro me machucou mas me ensinou muito, e no final das contas restou uma amizade que acredito que deve durar a vida inteira; o segundo é o que está comigo agora, me fazendo feliz à beça, me fazendo acreditar que amar vale a pena e dando aquele colorido de arco-íris pra minha vida.

Já vou começar o ano de 2008 com viagem marcada pra nada mais nada menos que Fortaleza; com planos de ingressar num mestrado, ou pelo menos experimentar pra ver no que dá; com planos de juntar uma grana pra sair de casa, e provavelmente com uma aliança de compromissono no dedo direito, coisa que sempre quis usar mas que nunca tive oportunidade; e com uma possibilidade de continuar na mesma escola e que trabalhei esse ano.

Bom, ainda tenho que organizar a minha listinha das dez coisas que quero realizar para o ano que vem, mas já adiantei aqui algumas delas.

Viver, definitivamente, é muito bom.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007


Véspera de um feriadão com duas pontes que são verdadeiros viadutos. Seis dias, dá pra ir à Disneylândia ver o Chapolin Colorado e voltar, como disse uma amiga minha. Todo mundo na escola super feliz porque vai ficar longe daquela zona por quase uma semana. Quer dizer, todos estavam felizes. A diretora da escola fez questão de jogar água no chope da galera e decretou uma reposição de greve na sexta-feira, e o que é pior, cumprindo horário normal de aula.

Isso quer dizer que, teoricamente (repetindo: teoricamente) eu teria que ficar na escola das três até às nove e meia da noite. Numa sexta-feira-ponte -de-super-feriadão. Na teoria, nós estaríamos na escola cumprindo funções burocráticas; porém, na prática, é bem possível que o grupo de professores seríssimos e cumpridores dos seus deveres aperte a teclinha do foda-se e pique a mula pro boteco lá perto, pra tomar cerveja, comer espetinho de "gato" e falar do decote indecente da blusa da diretora. Não vou nem precisar ir à Disneylândia pra me divertir.

Ontem entrei na turma para a qual me dirigi tão gentilmente no post anterior a este. Cheguei e já dei de cara com um dando um "pedala-robinho" no outro; um terceiro jogando bolinha de papel no quarto, um quinto rabiscando a lousa, uma meia-dúzia pra fora da sala e assim por diante. Um berreiro de dar medo. Parei na porta, olhei e apenas disse: não vou nem entrar nessa sala. Virei as costas e fui para a sala dos professores. Só voltei depois que o professor-coordenador foi até lá e botou ordem na bagunça. Mesmo assim, tive que colocar três pra fora pra poder dar continuidade à aula e tive também que sair uma vez pra beber água porque a voz me faltou de tanto que gritei. Mesmo assim, acho que bati o meu record em termos de calma e paciência com aquela sala e até consegui dar aula. Entre um berro e outro, a hora passou até que rápido. Sim, é verdade, tive que me controlar para não mandá-los literalmente f....

O que importa é que estamos em véspera de um feriadão de seis dias que promete, e o meu bom humor está nas alturas!! Portanto, curtam muito, porque eu vou curtir!






terça-feira, 13 de novembro de 2007

Tenho que trabalhar mesmo?

Ai, quase hora de ir trabalhar. O que me consola é que a semana vai ser mais curta. Duas aulas numa sala que é o ó do borogodó, talvez a pior turma que já tive desde que me iniciei nessa carreira de louco. É aquele tipo de turma que você pode se virar de cabeça pra baixo pra chamar a atenção, mas mesmo assim, eles não param de bagunçar. Até desencanei de preparar aula pra eles. Passei o ano todo tentando, conversando, chamando a atenção, dizendo "olha, turminha, vocês não vão chegar a lugar nenhum agindo desse jeito", chamando pai e mãe pra conversar, saindo da sala e xingando meio mundo depois disso tudo, mas... nada adiantou. Então, agora que estamos quase no fim do ano letivo, eu tenho só uma pequena coisinha pra dizer a essa turma: Fodam-se vocês. É anti-ético o que estou dizendo? Foda-se também. Não quero fazer parte do número cada vez maior de professores que pede licença por depressão. Eu me recuso.
O ano que vem a gente tenta de novo, porque a porra da esperança a gente nunca deixa de ter, mesmo.
Sinceramente, ando tão na boa, mas tão na boa que os alunos vão me enlouquecer sim, mas eu não vou estar nem aí. Se preciso for, até sair da sala e deixá-los falando sozinhos eu sou capaz de fazer.
A vida é mais do que isso. GRAÇAS A DEUS!!

quinta-feira, 8 de novembro de 2007


Ai que ano agitado! Intenso. Fazendo um pequeno balanço. Pensando em planos (Planos?) para o ano que vem.

Esse foi um ano que profissionalmente nem cheirou nem fedeu. Em janeiro passado, lembro que havia escrito em algum lugar que esse ano a palavra de ordem no trabalho seria DE-SEN-CA-NAR, assim , silabado mesmo, pra que cada sílaba penetrasse bem devagar na parte do cérebro que cuida do estresse.

Acabei entrando pra uma escola em que todos de certa forma tem essa filosofia também. É impressionante a diferença de clima entre a escola que trabalhei o ano passado e essa. O ano passado pensei que fosse enlouquecer com a pressão da diretora nazista que dominava por lá. Sem falar nos alunos. Professores acuados, sem coragem de enfrentar a ditadora, alunos dominando tudo, e a diretora pondo a culpa da indisciplina deles nos professores incompetentes que não sabiam dominar a sala.

Esse ano entrei pra uma escola em que pode-se dizer que são os professores que dominam. O clima bem diferente e os alunos, embora também indisciplinados, tem uma postura mais "respeitosa" em relação aos professores e funcionários. Me sinto bem lá, e pela primeira vez, senti vontade de ficar na mesma escola por mais de um ano letivo. Até amigos eu consegui fazer lá, coisa que não consegui nas outras duas escolas por onde passei.

Mas o fato é que não vejo a hora de chegarem as férias. Esse semestre tá sendo financeiramente osso pra mim. . Gastei muito, é verdade. E há pouco tempo descobri que devo para o leão do imposto de renda. Quem manda ter ganho rios de dinheiro o ano passado, né. Vou resolver esse pepino só o mês que vem, já que não tenho dinheiro pra pagar a multa esse mês.

Acho que vou tentar um mestrado o ano que vem. Ow, cabeça louca essa minha. O que eu quero, afinal? Bom, o fato é que preciso de uma boa desculpa para sair de casa, de repente um mestrado na USP possa ser a desculpa perfeita. Vou morar em SP para ficar mais perto do local de estudo. Aí, quando chegar outubro de 2008, peço remoção pra coordenadoria do Butantã e vou dar aula lá por perto também. Por que não unir o útil ao agradável?

Cacete, por que preciso de desculpas? Sou uma mulher madura, de quase trinta e dois anos de idade, financeiramente independente e que talvez por tudo isso quer sair da barra da saia dos pais. Eu quero sentir na pele DE VERDADE o que é viver por conta própria. Além disso, quero não precisar ficar me preocupando com a hora que eu vou chegar em casa porque vou deixar meus pais preocupados porque não cheguei ainda. Meu, não preciso mais passar por isso. Nem eles também. Não tenho mais 16 anos.

Mas pelo menos, as metas estão aos poucos aparecendo, tomando forma, não são mais uma massa amorfa no meu cérebro ainda confuso. Isso é bom... 2008 promete.












domingo, 4 de novembro de 2007

No dia de finados, aqui jaz a tristeza


"Alegria / eu vou te dar alegria / eu vou parar de chorar / eu vou raiar um novo dia / eu vou sair do fundo do mar - eu vou sair da beira do abismo / e dançar e dançar e dançar." (Arnaldo Antunes)


O encontro foi marcado para as três e meia perto da catraca do metrô Consolação. Depois de cinco dias conversando com palavras escritas e trocando algumas faladas por telefone, lá estávamos, olho no olho, um sentindo de perto o jeito do outro.

O chamado "feeling" rolou desde a primeira teclada; parecia que eu já sabia que estava conhecendo alguém especial antes mesmo de conhecer de fato.

Mas agora era momento de ouvir e observar. Timidez de ambas as partes, embora o meu primeiro impulso ao encarar o seu rosto e beijá-lo tenha sido de desviar o beijo de cUmprimento e transformá-lo em beijo de cOmprimento... mas tudo a seu tempo.

Nem sabíamos direito para onde estávamos indo. Paramos num bar ali mesmo, perto da Av. Paulista. Precisávamos conversar, nos conhecer mais, e pra isso qualquer boteco mais apresentável servia de cenário.

Conversa que rolou solta, (quase) desinteressada. Falou-se de profissão, vida amorosa (passada), idéias, sonhos; e fumou-se muito, muito mesmo, não sei se tanto por vício ou se para controlar a ansiedade que foi aumentando conforme o motivo principal do encontro foi ficando cada vez mais inevitável. Afinal, ficou óbvio que aquele encontro ia render, dada a sintonia que nossas idéias apresentavam entre si.

De repente, assunto que acabou. Não que não houvesse mais assunto. É que tem um momento, num encontro em que ocorre vontades mútuas, que as palavras começam a perder a utilidade. É o momento em que os olhos falam mais do que as línguas e estas, como a adivinhar o que virá, preparam-se para comprir, digo, cumprir sua outra função, mais muda e menos nutricional, se é que os leitores me entendem.

Mas a timidez ainda era enorme e nossos sorrisos nervosos pareciam ser a medida da complexidade e da intensidade daquele instante. Minha mão gelada sustentava o queixo. Olhares fixos um no outro... Tensão que aumenta. Seus braços se cruzaram, travados. Me enchi de coragem e agarrei um de seus braços tesos pela timidez, alcancei a sua mão.

Pronto, foi dada a largada... Me convidou para sentar ao seu lado e...bom... ou seria melhor dizer booom?

Basta dizer que foi uma tarde linda e que a sintonia, a tão rara e tão sonhada sintonia existe sim e quando a gente menos espera é que ela aparece, surpreendentemente aparece.


terça-feira, 30 de outubro de 2007

Mais algumas palavrinhas roubadas de alguém mais talentoso do que eu nas letras


Sonho Real – Lô Borges

A primeira vista
A paixão não tem defesa
Tem de ser um grande artista
Pra querer se segurar

Faz tremer a perna
Faz a bela virar fera
Quando alguém que a gente espera
Quer se chegar

Só de pensar
Já me faz mais feliz
Nem bem o amor começa
Eu já quero bis
Chega e instala a beleza
No mesmo momento. . .

Ilusão tão boa
Quando o astral de uma pessoa
Chega junto, roça a pele
E já quer se enroscar
Lê seu pensamento

Paralisa seu momento
Ao se encostar
Sonho real faz surpresa pra mim
e trança o meu destino com alguém assim
Chega e instala a beleza
No mesmo momento...

Felicidade pode estar pelo sim
Às vezes do seu lado
Tem alguém afim
Chega e instala a beleza
Momento de sonho real

Vem andar comigo
Numa beira de estrada
Desse lado ensolarado
Que eu achei pra caminhar
Vem meu anjo torto
Abusar do meu conforto
Ser meu bem em cada porto
Que eu ancorar

Sonho real faz surpresa pra mim
e trança o meu destino com alguém assim
Chega e instala a beleza
Momento de sonho real

Processando, reiniciando...

Por quê estão me faltanto palavras? Sei, as coisas estão embaralhadas ainda, mas de uma forma diferente, melhor, sim, muito melhor... Tudo tem acontecido de forma rápida e intensa, sem que eu tenha tempo de parar pra processar os fatos, se é que é possível mesmo processar os fatos.
Vivi uma semana realmente interessante.
A mostra cultural da escola em que trabalho me proporcionando um prazer diferente, que eu não esperava. Perceber o sorriso de alegria no rosto da minha aluna semi-analfabeta ao ver o poema escrito por ela exposto na mostra me fez pensar no porquê estamos neste mundo torto: pra fazer as outras pessoas felizes. Deixar nelas a nossa marca positiva.
Por ora, é o que posso dizer... palavras ainda me faltam.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Ow, cabeça! Ow Coração!


Labirinto
MPB4
Composição: Guilherme Arantes

Quero a sua mão no meu cabelo
Que é pra desembaraçar meu pensamento
Quero respirar o teu perfume
Que é pra descongestionar meu peito

O amor é um sentimento tão difícil de explicar
É um labirinto
Só pode a cada dia complicar
Cada dia melhorar

É um labirinto
Seu código é a frequência do olhar
Código do amor
Frequência do olhar
  • (Detalhe da foto: lesma perdida no meio de um labirinto de sal, imagina! Isso é que é estar perdido! HeHe! E quem é que não fica assim de vez em quando?Aliás, quem teve essa idéia o que tinha de criativo tinha também de desocupado)

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ


Segunda-Feira preguiçosa... O final de semana foi tranquilo; domingo com direito a passeio na Avenida Paulista em companhia de novos amigos queridos. Continuo abusando na bebida, mas pelo menos desta vez não tava dirigindo.

Definitivamente, não suporto mais ficar em casa no fim de semana. Fico, mas a inquietação me faz ficar andando pra lá e pra cá. Às vezes sossego lendo um livro ou vendo TV, mas a vontade mesmo é de sair por aí, zanzar.

Sejamos sensatos, final de semana pra solteiro foi feito pra isso mesmo. E foi-se o tempo em que eu era caseira e só punha a cara pra fora quando era pra estudar e trabalhar.

No sábado à tarde uma amiga me ligou perguntando se eu não queria fazer um bico como fiscal de corredor nas Olímpiadas da Matemática. Mais do que depressa aceitei, porque tô numa situação em que se me chamarem pra vender laranja na feira nas horas vagas pra ganhar uns trocados a mais, eu vou.

Foi bom, me distraí, conheci gente nova, estabeleci contatos, revi a escola em que estudei entre os anos de 91 e 95. Faz tempo. A escola Visconde de Mauácontinua a mesma, o bom e velho Viscondinho. Me vi ali lembrando um tempo em que minhas únicas preocupações eram estudar feito doida para a prova de matemática, que sempre foi meu fraco, e fugir da vice-diretora, a Suely, quando eu e minhas amigas malucas Bete, Mônica, Arléa e Edna matávamos aula pra ficar jogando voley na quadra.

Nós causávamos sim, mas os professores, ao mesmo tempo em que tinham pavor de nós, tinham também respeito e admiração porque éramos, sem sombra de dúvida, o grupo mais unido daquela escola, e o mais inteligente, diga-se de passagem.

Cada época da nossa vida tem suas dores e delícias. A que vivo agora não foge a essa regra. Viver é bom por isso mesmo.

sábado, 20 de outubro de 2007

Uma olhada positiva pra dentro


Vida que volta ao normal aos poucos, apesar do gosto amargo que ainda está nela. Medo de sair de casa e de voltar pra casa, quando saio. Mas sei que vai passar.

Tô injuriada porque ultimamente não tenho escrito nada "pra cima" neste post. Sei que é o meu atual estado de espírito que está sendo refletido no que escrevo. Mas também sei que tenho uma mania escrota de só enxergar o lado negativo das coisas e pior, só perceber o que há de pior em mim.

Mas acho que isso não é um fenômeno individual. Culturalmente somos educados pra não falar sobre o que temos e somos de melhor. Desde criança aprendemos que quem fala bem de si mesmo é pretensioso e metido a besta. Pra você tomar ciência das suas qualidades, você precisava ouvir de outra pessoa: pai, mãe, professor, parente. Não que não seja importante, afinal ser chamado de burro ou imprestável destrói a auto-estima de qualquer um, principalmente quando se é criança e portanto, a personalidade ainda não está formada. Mas dar voz à criança e fazê-la enxergar suas qualidades é mais difícil, mas deveria ser o ideal pra formar adultos mais seguros.

Acho que é por isso que sempre procurei conviver com pessoas que veem a si mesmas como sendo as mais inteligentes, as mais bonitas, os mais espertas e interessantes que existem, e que por isso mesmo, acabam obtendo êxito em tudo o que se propõem fazer. Conheço várias pessoas que dizem: "não tenho medo de nada, confio no meu taco, sei da minha capacidade, não sou pior do que ninguém, eu faço, eu aconteço."

Morro de rir da minha irmã quando ela veste uma roupa nova e se planta na frente do espelho, dizendo: "linda, maravilhosa, gostosa", e sapeca um beijo no espelho. Só de uns tempos pra cá, muito recentementente, é que comecei a me olhar no espelho e fazer o mesmo. Já me acho mais bonita e atraente, presto mais atenção nos atrativos físicos que os outros de fora até percebiam, mas que eu nunca havia reparado por não acreditar serem bonitos de fato.

Mas, tentemos fazer o exercício: pense em pelo menos 5 qualidades suas agora. Difícil. Se fosse pra listar os defeitos, aposto que sairia mais fácil, pelo menos comigo assim acontece. Mas vou tentar agora.


5o. HONESTIDADE

"Não sei como é a vida de um patife, nunca o fui; mas a de um homem honesto é abominável" (Joseph de Maistre)

Sempre procurei ser honesta, embora nem sempre a honestidade me tenha sido útil. Nunca ficar com nada do que não me pertencia, cumprir promessas feitas, dizer a verdade do que sinto, nunca deixar uma conta sem pagar. Mas pessoas honestas num mundo torto sofrem à beça.


4o. GENEROSIDADE

"Procurando o bem dos nossos semelhantes encontramos o nosso" (Platão)

Sou generosa sim, e considero isso uma ótima qualidade minha. Às vezes sou generosa até demais. De vez em quando, dizer "não" é a atitude mais sábia.


3o. INTELIGÊNCIA

" O primeiro dever da inteligência é desconfiar dela mesma" (Albert Einstein)

É verdade sim, sou inteligente. Privilegiada, mas consciente de que nem sempre estou inspirada. Todo mundo comete gafes, né.


2o. PACIÊNCIA


"Aprimorar a paciência requer alguém que nos faça mal e nos permita praticar a tolerância."( Dalai Lama )

"Paciência: forma menor de desespero disfarçado de virtude. "( Ambrose Bierce )


Paciência talvez seja uma das minhas maiores qualidades. Bom, se não fosse paciente, não serviria pra ser professora, acho. Mas venho exercitando e provando muito a minha capacidade de ser paciente, na escola, principalmente. Tem sido cada dia mais difícil. Mas eu persisto.



1o. PERSISTÊNCIA

"Quando nada parece ajudar,eu olho o cortador de pedras martelando sua rocha talvez cem vezes sem que nem uma só rachadura apareça. No entanto, na centésima primeira martelada,a pedra se abre em duas e eu sei que não foi aquela a que conseguiu, mas todas as que vieram antes." (Jacob Riis)

Paciência e persistência andam juntas, de mãos dadas. É impossível ser persistente sem paciência. E eu persisto. Uma vez colocando uma idéia na cabeça, não desisto jamais; posso escorregar, cair, sangrar, mas sempre dou um jeito de me levantar e continuar lutando até conseguir o que quero. Acho só que neste momento da minha vida, o grande problema está sendo definir aonde quero chegar, só isso.

Mas desistir é uma palavra que não existe no meu vocabulário. Nunca desisto, no máximo mudo de idéia.

Eu poderia listar outras qualidades minhas, mas realmente acho muito mais fácil quando outros reparam nelas e me falam, do que eu mesma pensar. Mas é um exercício que todo mundo deveria fazer.

Só espero que esse post não tenha ficado com cara de auto-ajuda. Detestaria ser comparada ao Lair Ribeiro.




terça-feira, 16 de outubro de 2007

Presente de dia dos professores


Não chegou a ser trágico mas foi traumático, sim.
Ter uma arma apontada para a sua cara e um qualquer exigindo que você entregue algo que lhe custou muito sacrifício para comprar não é a melhor situação que se possa viver.
Mas, como eu disse, não chegou a ser trágico. O carro tem seguro, já a minha vida ou a de alguém querido que por ventura saísse na porta no exato momento do delito para tentar me socorrer, não. Menos mal.
Choro, delegacia, B.O. Mais choro. Noite de cão que se passa, corpo encolhido na cama, numa sensação de impotência e medo, abraço de pai e mãe pra aliviar.
O dia amanheceu e com ele chegou o telefonema da polícia dizendo que haviam encontrado o carro abandonado num bairro perto daqui. O carro, inteiro, ou quase.
O que não havia mais: bolsa com documentos e dinheiro, toca-cd (básico!), um porta cd com quase trinta cds, incluindo alguns emprestados, a minha jaqueta verde que eu amava, até o guarda-chuva, o que é até compreensível já que a noite foi chuvosa.
Mas tudo isso eram apenas bens materiais. A gente compra de novo, nem que seja para novamente o meliante reclamar para si.
Agora, o mais importante está aqui comigo: eu mesma, meio aos pedaços por dentro, mas inteira por fora.
Além de mim, as pessoas que amo, todas aqui... ou ali... ou acolá... mas sempre de alguma forma, presentes. O que mais posso querer?

domingo, 14 de outubro de 2007

Então, o que quero mesmo?


Resposta: Sim, no fundo o que quero mesmo é sair de casa e morar com alguém ou "alguéns". Claro que tudo vai depender de N coisas que tenho que resolver até lá, mas principalmente vai depender de resolver as minhas próprias crises. Crises financeiras? Também. Crises profissionais? Também. Mas a principal crise é a crise moral. Cara, não me peça pra explicar porque não saberia agora. Se não conseguir resolver isso, não consigo resolver mais nada.

Tá, me sinto perdida, acho que nunca me senti tão perdida na vida, e ao mesmo tempo, nunca me senti tão eu mesma... Ruim isso? Não sei. Mas tenho uma mania terrível (ou seria melhor chamar virtude terrível?) de acreditar que no final tudo vai dar certo. O problema é saber onde fica o final.

Tenho que ser sincera comigo mesma nesse momento e com as pessoas amigas que eu sei que passam por esse blog de vez em quando ou sempre: me falta atitude. Há tempos. A minha última grande e tardia atitude foi dar o tiro de misericórdia num namoro em estado terminal. Matei o namoro antes que o namoro me matasse.

De lá pra cá, quais outras decisões importantes tomei pra minha vida? É pra se pensar.


... ??? ... ??? ... ??? ... ??? ...


Aff, tô detestando escrever isso. Mas tô escrevendo pra tentar organizar minhas idéias, como se o blog fosse nesse momento uma especie de divã onde eu me deitasse e começasse a falar sobre (quase) tudo o que me aflige pra um analista virtual. Quem sabe, enquanto escrevo, não me dá um insight e eu não consiga finalmente entender como tenho que organizar a minha vida.

A minha gripe tá fazendo o meu nariz entupir e minha voz ficar rouca e fanhosa. Quando a sensação de sufocamento parece ficar insuportável, pingo duas gotinhas de Neosoro pra descongestionar as vias nasais. Resultado: sensação de alívio imediato, liberdade pra respirar, voz que volta ao normal. Clareza. Alguém conhece um Neosoro que sirva pra descongestionar as idéias?

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Mais uma gorfada mental pra ver se limpa as idéias

Tanta conta pra pagar,
Tanta decisão pra tomar,
Tanta ressaca e gripe pra curar,
Tanta dúvida pra tirar,
Tanta aula pra dar,
Tanta gente pra (graças a Deus) amar
Tanto sonho pra realizar
Tanto medo pra domar
Tanta... Tanto... uffa

Hora de começar a priorizar, pensar, dialogar comigo mesma num monólogo ensimesmado ( Santa redundância, Batman!!), Enfim, quero o quê da minha vida primeiro?

A -( ) Morar sozinha? ( ou com alguém ou "alguéns"?)
B -( )Fazer Faculdade? ( De novo?!)
C - ( ) Fazer uma especialização ou mestrado?
D -( ) Nenhuma das anteriores, vou é virar hippie e montar uma barraquinha de bijouterias e parar de pensar nisso tudo?

Fique atento para a resposta no próximo capítulo... digo, post.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Desabafo...


"Vou pondo em teu cabelo cinzas de relâmpago e fitas que dormiam na chuva... Toda manhã é o quadro negro onde te invento e te desenho, pronto a apagar-te, busco tua soma, a borda do copo onde o vinho é também a lua e o espelho...

Além disso te quero, e faz tempo e frio. "

(Julio Cortázar)


Tudo o que sinto, todo o amor ou seja lá o que for isso que sinto não cabe dentro de mim nem em todo o espaço que tenho disponível aqui.

Todo esse sentimento que transborda, toda essa falta de algo que ainda não há...

Minha alma sai de mim e quer estar contigo, e está... Tudo que queria agora é que a tua alma também quisesse estar comigo.

Barreiras existem e são muitas, tantas tantas que já deveria ter desistido.

Mas não quero te esquecer e talvez por isso o sentimento persiste, insiste em te querer.

Contudo, ainda tenho um consolo porque penso que, neste caso, não querer também é poder.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

A pedra mais alta

Me resolvi por subir na pedra mais alta
Pra te enxergar sorrindo da pedra mais alta
Contemplar teu ar, teu movimento, teu canto
Olhos feito pérola, cabelo feito manto

Sereia bonita sentada na pedra mais alta
To pensando em me jogar de cima da pedra mais alta
Vou mergulhar, talvez bater cabeça no fundo
Vou dar braçadas remar todos mares do mundo

O medo fica maior de cima da pedra mais alta
Sou tão pequenininho de cima da pedra mais alta
Me pareço conchinha ou será que conchinha acha que sou eu?
Tudo fica confuso de cima da pedra mais alta

Quero deitar na tua escama
Teu colo confessionário
De cima da pedra não se fala em horário
Bem sei da tua dificuldade na terra
Farei o possível pra morar contigo na pedra

Sereia bonita descansa teus braços em mim
Não quero tua poesia teu tesouro escondido
Deixa a onda levar todo esboço de idéia, de fim
Defina comigo o traçado do nosso sentido

Quero teu sonho visível da pedra mais alta
Quero gotas pequenas molhando a pedra mais alta
Quero a música rara o som doce choroso da flauta
Quero você inteira e minha metade de volta

(Fernando Anitelli)

PS.: Escrever pra quê? A música e a poesia falam por mim quando as minhas próprias palavras são insuficientes...

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Quase convulsiva-mente


Vou escrever sobre o quê mesmo? Sei lá, acho que vou usar a técnica da escrita por livre associação de idéias e começar a escrever tudo o que me passar pela cabeça do jeito que vier. No que tô pensando agora? Ah, em como sou burra de ir pro centro de São Paulo de carro em plena semana e pegar aquele puta trânsito típico pra assistir a uma assembléia de professores que tem como diretor um manipulador sacana de idéias sacanas.

Tô pensando em como tô com preguiça de voltar a trabalhar depois de ter participado de uma semana de congresso do sindicato cujo diretor é aquele mesmo sacana manipulador de idéias que falei acima. Pensando em como a palestra do Max Haetinger no congresso me deixou confusa em relação ao que penso sobre a minha profissão e ao que de verdade deveria pensar. Pensando no infarte que o Antenor Cavalcante da novela dos oito acabou de ter porque tá estressado. Pensando que daqui a pouco à meia-noite vou ter que ir buscar a minha irmã no centro de Mauá porque ela tá fazendo um curso lá na Av. Paulista e volta tarde pra casa e minha mãe fica preocupada, pra variar.

Pensando em como tô centrada em mim mesma e tô conversando pouco com a minha mãe que se sente sozinha.

O Max me fez voltar a sentir esperança na educação e no que posso realmente fazer no meu trabalho mas parece que essa esperança só durou um dia. Tô passando tempo demais na frente do computador fazendo coisas inúteis como ficar escrevendo essas baboseiras nesse blog inútil. Tá certo que conversar no msn me faz esquecer algumas coisas mas também me faz lembrar de outras. Me sinto meio estranha escrevendo isso, ninguém vai ter paciência de ler, não vão entender nada. Tô pensando em como tem coisa que nem por livre associação de idéias eu consigo escrever porque, sei lá eu porque.

Ai, chega! Tem uma hora em que o cérebro trava! Hora de reiniciar...

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Quanta nostalgia!

(foto tirada em junho de 1982)

Depois de um fim-de-semana de calor de verão, o dia amanheceu frio e chuvoso. As mudanças no clima parecem as minhas mudanças de humor, num dia é a alegria mais eufórica; no outro, a angústia mais profunda. Acordei nostálgica hoje, mais do que o normal.

Tô ouvindo Roberto Carlos agora. Brega pra caralho. Mas pra mim RC é o brega mais chique que existe. Ouço as músicas mais antigas dele e me lembro de quando eu tinha 5 anos e ficava na porta de casa vestida com o meu unifome azul-marinho, daqueles uniformes com duas listras brancas na lateral. Lancheira com suquinho Tang de laranja e um lanchinho de presunto, às vezes uma fruta ou um choquito, que sempre acabava sumindo da minha lancheira por obra de mão grande de algum colega mal intencionado. Sempre levava uma bronca da minha mãe quando chegava em casa, como se tivesse culpa de ter sido roubada.

E lá ficava eu na porta de casa esperando a perua do tio Ramon, que passava na minha casa pontualmente ao meio-dia pra me pegar pra ir pra escolinha de jardim da infância, que ficava no centro de Mauá. E o que o bendito tio Ramon escutava no rádio da perua? Roberto Carlos, claro.

É incrível como algumas coisas que vivemos na infância marcam pelo resto da vida. Escutar Roberto Carlos é como voltar por alguns momentos a esses tempos idos e viver tudo de novo.

Lembrar da vez em que eu tava sentada no balanço do pátio e uma cadeira quebrada escapou e veio direto na minha cara, coisas que só comigo aconteciam; cortei o supercílio e mais uma vez levei uma bronca da minha mãe quando cheguei em casa, como se tivesse culpa de ter sofrido um acidente. Parece que de raiva, mesmo eu estando já medicada, ela veio e tacou um mertiolate no ferimento. Lembrando que naquele tempo mertiolate ardia pra caramba, aff.

A escolinha tinha algumas atividades extraescolares: aula de balé para as meninas e caratê para os meninos. Minha mãe me matriculou no balé, claro. Mas eu queria mesmo era fazer caratê. Na minha cabecinha de cinco anos, não entendia por que tinha que fazer uma coisa que eu não queria só porque dizia-se que era mais apropriado pra meninas.

Me obrigaram a dançar a quadrilha da festa junina com um menino que eu detestava. Bom, a verdade é que sempre fui muito tímida e tinha horror a ser colocada no centro das atenções. Mas, enfim, dancei a famigerada quadrilha. Lembro até hoje da vergonha que senti de vestir aquele vestidinho caipira com sapatinho melissa e meia branca 3/4; o chapéu com tranças postiças e o cabelo escovado pela minha mãe orgulhosa da filha que ia dançar quadrilha pela primeira vez. Minha cara na foto acima não me deixa mentir, cara feia que contrasta com a cara alegre e zombeteira do meu par. Fui voltar a dançar uma quadrilha 26 anos depois, ou seja, na última festa junina. Cheguei a postar sobre isso aqui. Pois é, superei o trauma da primeira quadrilha e me diverti um bocado.

Tudo isso eu escrevi por quê? Ah, porque ouvir Roberto Carlos me faz lembrar tudo isso. Embora agora, depois de escrever isso, eu esteja mais pra Cássia Eller: "quem sabe eu ainda sou uma garotinha esperando o ônibus da escola sozinha, cansada com minhas meias 3/4, rezando baixo pelos cantos, por ser uma menina má".

Quem sabe eu não sou mesmo aquela garotinha, ainda?


segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Roda mundo!


Este blog tá mais largado do que bêbado na sargeta. Por falar em bêbado, parece que é esse o meu caminho do momento. Como diz uma amiga minha: quando estou feliz, bebo; bebo quando estou triste, bebo pra não ficar triste; bebo pra comemorar, bebo pra protestar...

Lado ruim: pegar o carro e dirigir depois disso.

Mas uma vez chegando em casa sã e salva (muito mais salva do que sã, obviamente), é só preparar o comprimido de anador e deixar uma garrafinha de água do lado da cama pra que a ressaca não venha com força total, e ir deitar, sonhar que o mundo dança ao meu redor, duplicado, claro . Aproveito bem esse momento, pois não é sempre que posso ver o mundo bailando só pra mim. E quando os seus giros dançantes são tão frenéticos que não posso suportar, é só caminhar uns passos tortos até o banheiro e jogar na cara do mundo tudo o que ele me negou...
(...)A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira pra lá (...)
(Roda Viva - Chico Buarque)

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Essa música sempre me dá paz...

O descobrimento do Brasil (Legião Urbana)

Ela me disse que trabalha no correio
E que namora um menino eletricista
Estou pensando em casamento
Mas não quero me casar

Quem modelou teu rosto ?
Quem viu a tua alma entrando ?
Quem viu a tua alma entrar ?
Quem são teus inimigos ?
Quem é de tua cria ?
A professora Adélia, a tia Edilamar e a tia Esperança

Será que você vai saber
O quanto penso em você com o meu coração ?
Será que você vai saber
O quanto penso em você com o meu coração ?

Quem está agora ao teu lado ?
Quem para sempre está ?
Quem para sempre estará ?

Ela me disse que trabalha no correio
E que namora um menino eletricista
As famílias se conhecem bem
E são amigas nesta vida

Será que você vai saber
o quanto penso em você com o meu coração ?
Será que você vai saber,
o quanto penso em você com o meu coração ?

A gente quer um lugar pra gente
A gente quer é de papel passado
Com festa, bolo e brigadeiro
A gente quer um canto sossegado
A gente quer um canto de sossego

Estou pensando em casamento
Ainda não posso me casar
Eu sou rapaz direito
E fui escolhido pela menina mais bonita.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

A dança da vida


Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.

João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
(Carlos Drummond de Andrade)



Acho que tô pirando de vez. Outro dia tentei tirar o carro da garagem sem abrir o portão antes. Carro-fantasma... ou será que era eu o fantasma? Ontem saí da sala da quinta série arremessando livro na parede depois de ter lutado em vão para fazê-los calar a boca. À noite me deitei e sonhei que estava trepando com o Reinaldo Gianecchini dentro de uma piscina e com um monte de gente olhando em volta. Valeu porque era o Reinaldo Gianecchini, o único homem pra quem eu daria sem medo de ser feliz. Mas cá entre nós, que sonho estranho.

Antes de dormir eu estava lendo o volume sobre Edvard Munch da coleção dos grandes mestres da pintura da Folha de SP. Dormi e sonhei também com os quadros dele. Aliás, dos pintores que eu ainda não conhecia nessa coleção, ele foi o que mais me impressionou, pela marca profunda de subjetivismo que ele deixou nas suas obras. Me identifiquei com o tom de angústia presente em quase todos os seus quadros. Todo mundo conhece o famoso "O grito", cujo rosto deformado do personagem inspirou a máscara do assassino do filme "Pânico". Mas de todo os que mais me impressionou mesmo foi o que ilustra esse post. O nome do quadro é " A dança da vida".

Esse quadro é quase uma narrativa em forma de pintura. Duas figuras femininas cercam um casal completamente alheio ao que acontece ao redor. O quadro parece falar sobre as fases do amor na vida da mulher. A mulher de branco da esquerda é jovem e simboliza, segundo o livro da coleção, a pureza do primeiro amor, virgem como a cor branca que seu vestido indica. A da direita, mais velha e vestida de preto, simboliza a perda das ilusões amorosas que vem com a experiência. Ela olha para o casal que dança no centro com ar de desaprovação. Por sua vez, o par feminino do casal veste vermelho, a cor da paixão. Ela tá no auge do vigor amoroso e sexual. Vale reparar a conotação fálica que o reflexo do sol na água ao fundo sugere. Dessa forma o quadro sintetiza as fases do amor na vida desde a pureza do primeiro amor, passando pelo auge do vigor amoroso até findar na desilusão. É uma visão pessimista a que o pintor passa, mas faz parte do estilo dele. Até arriscaria o palpite de que na verdade as três mulheres retratadas em primeiro plano na verdade são a mesma mulher representada em três fases diferentes. Achei genial!

Enfim, é assim. Minha vida neste momento é um quadro de Munch.

domingo, 2 de setembro de 2007

Beco sem saída


Diz quem consegue me segurar em casa. Fico tão agitada que a única coisa que me serve é pegar o carro e sair por aí Deus sabe por onde. É o único jeito de aliviar a constante ansiedade e a angústia que às vezes me acomete. Estaria tudo bem se em cada saída eu não desembolsasse um dinheiro que eu não poderia gastar nesse momento.

É aquela velha história: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Não tem muita solução pra mim

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Cigarra, com certeza


"Agora não vou mais mudar, minha procura por si só já era o que eu queria achar" ("Encostar na tua"- Ana Carolina)

Resolvi fazer uma viagem. Sozinha. De avião. Para um lugar que eu não conheço. Para conhecer pessoas diferentes. Confesso que estou um pouco assustada. E não devia, já que tô com 31 anos e não precisaria estar me sentindo como uma adolescente que fuma escondido dos pais. (diga-se de passagem, ainda fumo escondida deles, só que mais por uma questão de respeito, já que eles sabem).

Tô querendo muito me desprender deles e talvez essa viagem simbolize um pouco essa busca pelo desprendimento. Vou fazer essa viagem pra Fortaleza com a cara e a coragem, mesmo. Financeiramente vai ser pesado e pode ser que com isso eu passe o ano de 2008 inteiro tentando sair do vermelho. Ironicamente, aí é que não vou poder me desprender deles mesmo, já que vou estar com a conta no vermelho. Mas... é um risco que quero correr, e preciso correr.

Nunca fiz nada por impulso. Sempre pensei em tudo, planejei tudo. Essa atitude vai contra anos de personalidade prudente, planejadora; por isso me sinto um pouco como se estivesse fazendo alguma coisa errada, fora da lei. É uma sensação ao mesmo tempo assustadora e fascinante. Nesse momento, com toda a certeza, sou cigarra...

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O valor do amanhã

Eu já havia feito o comentário sobre cigarras e formigas no capítulo de estréia da série "O valor do amanhã", que está sendo exibido pelo fantástico desde o dia 12 de agosto. O segundo capítulo menciona a fábula. O que é melhor: viver o presente arriscando o futuro, ou preservar-se no presente para obter recompensas no futuro? Esse episódio mostra que isso depende da situação que se está vivendo no momento da escolha. Há situações em que é melhor viver simplesmente o presente, por uma questão de sobrevivência; ou viver o presente, por uma questão de oportunidades que vêm e que podem não voltar mais. Ou seja, nem sempre trabalhar hoje para colher os frutos no futuro é a melhor escolha.
Cigarras e formigas

Você é uma formiga que vive pro trabalho ou uma cigarra que vive a cantar? Está preocupado em curtir o presente ou em preparar o futuro? É hora de conhecer o valor do amanhã!
Viver é fazer escolhas. Ninguém escapa. Trabalhar ou cantar? Estudar ou ir à praia? Isso agora ou aquilo depois?
Os apelos do presente e os apelos do futuro moram na nossa mente e estão a todo momento medindo forças.
A natureza parece não ter escrúpulo. Um animal vai fazer tudo o que puder para saciar sua fome, sede ou atração sexual. E quanto antes, melhor. Ele vive o presente. O aqui-e-agora domina os seus sentidos.
O ser humano, ao contrário, adquiriu a arte de se distanciar. Ele guarda na memória as experiências que já viveu e imagina o futuro.
Se quiser algo que não existe, pode inventar. Se tiver medo, pode se precaver. Se tiver esperanças, pode arriscar e apostar. Ponderar, calcular, comparar e eleger um amanhã é para os humanos.
Qualquer que seja a idade, uma coisa é certa: todos nós temos um passado e todos temos um futuro a zelar. O homem é o único animal que é refém do tempo. E é justamente essa percepção do tempo que torna certas escolhas tão difíceis.
A letra da música “A vizinha do lado” diz:
A vizinha quando passaCom seu vestido grenáTodo mundodiz que é boaMas como a vizinha não háEla mexeco'as cadeiras pra cá.Ela mexe co'as cadeiraspra lá.Ele mexe com o juízoDo homem que vaitrabalhar
Se você for atrás da vizinha e se tudo der certo, você poderá viver um bom momento... Mas e se você passar a vida inteira sem se permitir um momento de entrega?
Todas as escolhas envolvem comparações entre valores presentes e futuros e todas têm conseqüências.
“Às vezes você faz uma escolha que você pensa que é boa, mas o adversário está te cercando e fez uma escolha muito melhor do que a sua. Você pensa que está numa boa e, quando você vê, acaba o jogo. Na vida nós nunca podemos saber o que pode acontecer até amanhã ou até hoje mesmo. No jogo de dama, é a mesma coisa”, comenta o aposentado Ivan Guimarães.
Qual é o preço da impaciência? E qual o prêmio da espera? São os juros. Estamos acostumados a pensar em juros só quando compramos em crediário. Mas na verdade o fenômeno dos juros vai muito além disso. De fato, ele está presente todas as vezes que fazemos escolhas no tempo.
Os juros são o prêmio da espera para quem transfere valores do presente para o futuro. É o caso, por exemplo, da poupança. Deixo de gastar hoje para ter uma recompensa amanhã.
Mas quando valores do futuro são antecipados para o presente, os juros são o preço da impaciência. É o custo de quem não quer ou não pode esperar.
Foi o caso dramático de um jovem que, para acelerar a formação de músculos, recorreu ao uso de anabolizantes.
“Eu comecei tomando os mais simples, nacionais, mais baratos. E de repente passei a usar também determinadas drogas, remédios para diabéticos e para hipertensos, para animais. Tive queda de cabelo, alterações de pressão, tinha problemas na coluna, articulares, fiquei estéril aos 17 anos. Mas isso foi revertido naturalmente, graças a Deus”, conta Eduardo Conradt, hoje personal trainer.
Às vezes, devagar é mais veloz.
“Um bom lapidário vai serrar, depois vai colar a pedra em uma caneta e depois vai talhar, polir. Exige muita paciência e dedicação, e gostar do que faz”, explica o gemólogo Jozo Nishinura.
Mas nada é tudo, nem mesmo a paciência. Quando a incerteza é aguda, o aqui-e-agora é senhor da situação. Diante da fome e da dor, por exemplo, não há espera possível. O presente dá as cartas.
“É a fome, a seca... O castigo é muito e a gente acaba não pensando no amanhã, no futuro. Quando eu acordava de manhã e pensava: ‘Hoje, mais um dia, e não tem o que comer’. Saía sem destino dentro do mato, para procurar o que comer. O que achasse a gente comia. A cachorra matava o preá e trazia para casa para dar para os filhotes. Tomávamos o preá da boca da cachorra, para a gente comer. O aqui-e-agora era mais importante. No amanhã a gente nem pensava em viver. Por que viver se não há comida?”, diz o vendedor Paulo de Oliveira.
As escolhas no tempo dependem sempre do contexto em que são feitas e da avaliação que fazemos dos termos da troca envolvidos. Quando a sobrevivência está em jogo, o desafio é viver mais um dia.
“Se eu fiz, foi porque tive que comprar primeiramente a alimentação, a comida, porque não posso morrer de fome. Em segundo lugar, para ajudar minha família. Em terceiro, para me manter, andar arrumado”, justifica um jovem criminoso.
“No mundo do crime, eles correm risco o tempo inteiro. Correm risco não só no momento da ação, do assalto, do crime em si, mas o tempo todo, porque de um lado há os amigos, que são todos bandidos; do outro, a polícia, que também muitas vezes age com grande arbitrariedade. E depois eles já experimentaram o prazer de ter dinheiro. Um garoto desses às vezes em um assalto junta R$ 5 mil, R$ 10 mil. O pai, que trabalha 12, 13 horas por dia, nunca conseguiu juntar isso. Se você não tem essa visão do futuro, sobra o presente, mais nada”, observa o médico Dráuzio Varella.
Valores presentes e futuros estão sempre medindo forças em nossa mente. E as negociações entre eles se renovam a cada dia.
Na aventura que é a existência, apostas têm que ser feitas e proteger-se de todo risco sem jamais apostar é talvez a pior aposta possível. O que importa é saber até que ponto vale a pena antecipar ou retardar valores no tempo. As armadilhas e atalhos são muitos. Como evitá-los?

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Dramática da língua portuguesa em fase de mudança



As novas regras da língua portuguesa devem começar a ser implementadas em 2008. Mudanças incluem fim do trema e devem mudar entre 0,5% e 2% do vocabulário brasileiro. Veja abaixo quais são as mudanças.

HÍFEN
Não se usará mais:1. quando o segundo elemento começa com s ou r, devendo estas consoantes ser duplicadas, como em "antirreligioso", "antissemita", "contrarregra", "infrassom". Exceção: será mantido o hífen quando os prefixos terminam com r -ou seja, "hiper-", "inter-" e "super-"- como em "hiper-requintado", "inter-resistente" e "super-revista"2. quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente. Exemplos: "extraescolar", "aeroespacial", "autoestrada"
(As regras do hífen sempre foram confusas pra mim...)

TREMA´Deixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados
(Eu acho que o trema já não existe há muito tempo. Lembro de uma aluna minha da oitava série perguntando o que eram aqueles dois pinguinhos em cima do "u" na palavra lingüiça. Ops, linguiça.)

ACENTO DIFERENCIAL Não se usará mais para diferenciar:1. "pára" (flexão do verbo parar) de "para" (preposição)2. "péla" (flexão do verbo pelar) de "pela" (combinação da preposição com o artigo)3. "pólo" (substantivo) de "polo" (combinação antiga e popular de "por" e "lo")4. "pélo" (flexão do verbo pelar), "pêlo" (substantivo) e "pelo" (combinação da preposição com o artigo)5. "pêra" (substantivo - fruta), "péra" (substantivo arcaico - pedra) e "pera" (preposição arcaica)
(Eita! Vai ser difícil escrever " eu me pelo de medo" sem pôr (ou será 'por'?) o acento agudo na palavra pelo.)


ALFABETO Passará a ter 26 letras, ao incorporar as letras "k", "w" e "y"
(Sinceramente, fiquei surpresa com essa. Pra mim as três letras referidas já faziam parte do alfabeto há bastante tempo)



ACENTO CIRCUNFLEXO
Não se usará mais:1. nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus derivados. A grafia correta será "creem", "deem", "leem" e "veem"2. em palavras terminados em hiato "oo", como "enjôo" ou "vôo" -que se tornam "enjoo" e "voo"
(Outra regra que os meus alunos nem sabem que existe e que por isso nem faz diferença se mudou ou não.)

ACENTO AGUDO Não se usará mais:1. nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia"2. nas palavras paroxítonas, com "i" e "u" tônicos, quando precedidos de ditongo. Exemplos: "feiúra" e "baiúca" passam a ser grafadas "feiura" e "baiuca"3. nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com "u" tônico precedido de "g" ou "q" e seguido de "e" ou "i". Com isso, algumas poucas formas de verbos, como averigúe (averiguar), apazigúe (apaziguar) e argúem (arg(ü/u)ir), passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem
(Essa vai ser mais difícil pra se acostumar. Que tramoia!)


GRAFIA No português lusitano:1. desaparecerão o "c" e o "p" de palavras em que essas letras não são pronunciadas, como "acção", "acto", "adopção", "óptimo" -que se tornam "ação", "ato", "adoção" e "ótimo"2. será eliminado o "h" de palavras como "herva" e "húmido", que serão grafadas como no Brasil -"erva" e "úmido"
(Já não era sem tempo. Era o cúmulo do arcaísmo.)

fonte: folha online, 20/08/08

sábado, 18 de agosto de 2007

Loucura, loucura, loucura!!!


Mais um sábado à noite em casa... Tô até estranhando, mas nesse momento acho que é necessário esse tempo. Não sei até que ponto ficar sozinha comigo mesma seja algo bom, mas vou aproveitar o momento de introspecção para tentar pôr as idéias em ordem.

Meu trabalho não me chateia mais, acho que me acostumei ou me acomodei ao fato de que existem certas coisas que fogem mesmo do nosso controle e que por isso o estresse acaba sendo em vão. Antes de ser professora, sou um ser humano, pôxa!

Vejo alguns professores na escola em que trabalho ficando doentes por causa dos problemas da profissão. Esses problemas são incontáveis, como já postei aqui uma vez: de um lado, alunos que não rendem ou porque faltam muito ou porque não estão nem aí para aprender a matéria, ou as duas coisas; de outro, professores sendo cobrados para fazer com que esses alunos aprendam. O sistema de ensino, muito assistencialista, não ajuda.

Esses e outros problemas - que só quem entra na sala de aula todo dia é que conhece - contribuem para o número elevado de licenças médicas e o aumento do número de profissionais que procuram o setor de psiquiatria do famigerado Hospital do Servidor Público de São Paulo (lembro de ter lido em algum lugar que cerca de 70% dos servidores públicos que adentram os corredores desse setor são professores). Já ouvi casos bizarros: professor que na sala de espera, grita com funcionários e médicos como se estivesse falando com alunos, outro que vira para a parede do hospital e começa a fazer que está escrevendo na lousa, e por aí vai... Uma professora uma vez me disse que ficou tão nervosa por causa dos alunos, que chegando em casa, mandou a TV que estava ligada em volume alto calar a boca!

Bom, prevenir é melhor do que remediar. Eu sei que já tenho uma leve tendência ao surto, embora não pareça. Por isso, tomei uma vacina anti-estresse e coisas que antes me incomodavam horrores, hoje não incomodam mais.

Essa vacina anti-estresse consiste em fazer pequenas grandes coisas bem prazerosas nas horas vagas. No meu caso essas coisas são: ler um bom livro, sair pra conversar com bons amigos e tomar uma cerveja, sair pra comer fora uma vez ou outra, arranhar umas músicas no violão, conversar no msn, postar neste blog, fazer sessões de massoterapia ou, simplesmente, se dar o direito de abonar um dia pra ficar de bunda pra cima. Diga-se de passagem, costumo chamar o dia em que abono de "o dia do foda-se".

Aliás, como felizmente nem tudo é desvantagem na profissão, o fato de podermos abonar dez dias no ano ajuda bastante quando precisamos mesmo dar um tempo pra cabeça, e precisamos, viu? E se eu tenho esse direito, por que não vou aproveitá-lo? Todo trabalhador deveria ter esse direito também.

A verdade é que trabalho estressa e, não importa qual seja a sua profissão, DESENCANAR é preciso, por uma questão de higiene mental. Se for pra enlouquecer, que seja de prazer!

terça-feira, 14 de agosto de 2007

A propósito...

Abaixo, uma versão diferente da fábula de La Fontaine. Essa tem muito mais a ver com os nossos dias:
"Era uma vez uma formiguinha e uma cigarra, muito amigas.Durante todo o outono a formiguinha trabalhou sem parar armazenando comida para o período de inverno, não aproveitou nada do sol, da brisa suave do fim da tardee nem do bate papo com os amigos ao final do expediente de trabalho tomando uma cerveja,seu nome era trabalho e seu sobrenome, sempre.
Enquanto isso a cigarra só queria saber de cantar nas rodas de amigos nos bares da cidade, não desperdiçou um minuto sequer, cantou durante todo o outono, dançou, aproveitou o sol, curtiu para valer sem se preocupar com o inverno que estava por vir.
Então, passados alguns dias, começou a esfriar, era o inverno que estava começando.A formiguinha exausta entrou para dentro de sua singela e aconchegante toca repleta de comida.Mas alguém chamava por seu nome do lado de fora da toca. Quando abriu a porta para ver quem era, ficou surpresa com o que viu,sua amiga cigarra dentro de uma Ferrari com um maravilhoso casaco de vison.
E a cigarra falou para a formiguinha:
- Olá amiga, vou passar o inverno em Paris, será que você poderia cuidar da minha toca para mim?
E a formiguinha respondeu:
- Claro, sem problema, mas o que lhe aconteceu que você vai para Paris e está com esta Ferrari?
Respondeu a cigarra:
- Imagine você que eu estava cantando em um bar na semana passada e um produtor gostou da minha voz e fechei um contrato de Seis meses para fazer Shows em Paris... A propósito, a amiga deseja algo de lá?
Respondeu a formiguinha:
- Desejo sim , se você encontrar um tal de La Fontaine por lá, mande ele tomar no CÚ!!!"
Moral da história:Aproveite sua vida, saiba dosar trabalho e lazer, pois Trabalho em demasia só traz benefício em fábulas do La Fontaine.

Cigarra ou formiga?


Eu sei que a Rede Globo é manipuladora, quase sempre distorce as notícias que transmite e bla bla bla. Mas, de vez em quando, pelo menos o show da vida dá uma dentro. As séries de reportagem que o Fantástico transmite até trazem informações que acrescentam em algo. Gostei muito da série "Ser ou não ser", por exemplo, em que uma filósofa falava dos grandes pensadores da história, associando as idéias deles às questões da nossa realidade atual.

No último domingo, o fantástico estreou uma nova série: "O valor do amanhã", apresentado por um economista que também é filósofo (tudo a ver, é como associar Letras a Contabilidade, por exemplo). Não lembro o nome dele agora. Mas a grande questão que se coloca de início é: o que é melhor: viver agora e pagar depois ou pagar agora e viver depois?

Pra ficar fácil, é só pensar na fábula da Cigarra e da Formiga, que todo mundo já conhece. A formiga é aquela que trabalha todo o verão estocando comida pra os apertos do inverno, a cigarra é aquela que passa o verão inteiro cantando, curtindo a vida e quando chega o inverno, faminta, vai bater na porta da formiga procurando abrigo e comida. A fábula traz a mensagem do trabalho árduo que tem como sonseqüencia o futuro confortável e da "vadiagem" que tem como conseqüência os apertos futuros.

A série do Fantástico vai mais ou menos pelo mesmo caminho, se dirigindo ao telespectador como se perguntasse: na vida, você é cigarra ou formiga?

Como tô com preguiça de ficar escrevendo, vou colocar o texto da reportagem na íntegra abaixo. quem quiser, pode acessar o site da globo.com e assistir à reportagem inteira.





Você é o tipo de pessoa que prefere viver dez anos a mil ou mil anos a dez? Gasta dinheiro sem pensar no dia de amanhã ou trata cada centavo com o maior cuidado? O valor do amanhã: uma série que vai nos ajudar a resolver a eterna disputa entre presente e futuro na vida da gente.
Conta a Bíblia que, ao criar o universo, Deus gerou um ser à sua imagem e semelhança, um ser diferente de todos os outros, capaz de decidir, por si próprio, o seu destino. Macho e fêmea ele os criou.
No paraíso, Adão e Eva viviam sem preocupações ou temores. Tudo era paz, harmonia, beleza, fartura. A vida era leve como o ar, suave como a água, aconchegante como a terra. Mas, ao dar a Adão e Eva o Jardim das Delícias, Deus deu-lhes também uma proibição: “Comereis de todas as árvores, mas da árvore do conhecimento não comereis”, ele disse.
Um dia, a serpente encontrou Eva a sós, no Paraíso. E ofereceu-lhe o fruto proibido. “Se comeres, seus olhos se abrirão para todo o bem, para todo mal”, ela disse.
Eva não resiste à tentação. Morde o fruto e o oferece a Adão. Como um raio, a fúria divina desaba sobre o primeiro casal. Expulsos do Paraíso, Adão e Eva se descobrem mortais. Ao invés dos Jardins das Delícias, o trabalho sem trégua, o procriar aflito, o tormento da culpa. E assim nasceu a maior conta de juros de que se tem registro na história da criação.
A trama da vida é um grande mistério. Por quantos anos vamos viver? E como será o amanhã? O que é melhor: desfrutar o momento ou cuidar do futuro? Isso agora ou aquilo depois?
Dilemas como esses aparecem o tempo todo. O que comer? Como cuidar da nossa saúde, do nosso dinheiro? Qual a melhor carreira a seguir...
De um lado, estão os nossos sonhos e desejos. De outro, as nossas possibilidades e limites.
Nesta série de dez programas, vamos falar desse jogo entre presente e futuro. Um jogo que recomeça todos os dias e que, mesmo sem perceber, a vida nos obriga todos os dias a jogar. Tudo o que está vivo ocupa um lugar no espaço. No espaço, é possível se deslocar. Difícil ou arriscado, é só uma questão de habilidade e de técnica.
Com o tempo é diferente. Os ponteiros do relógio giram imitando o movimento circular do sol. Mas o tempo não roda, ele avança. É sempre um dia depois do outro, um dia de cada vez.
À nossa frente, o que existe é o amanhã com as suas muitas possibilidades. Mas quem sabe ao certo o que vai ser o futuro?
A única coisa segura é que a vida é breve e tem um fim. Só não sabemos quando. Então, é viver mais um dia pelo tempo que for possível e cuidar do amanhã.
É aí que começam as negociações para fazer do tempo um aliado, e não um inimigo.
“A minha mãe é um pessoa muito exigente, cobra muito do estudo. Tem que estudar se não eu não vou ser alguém na vida”, diz a estudante Gabriela dos Santos.
“Com 14 anos eu já tinha registro. Então, tempo para brincar eu não tinha”, conta a porteira Gislene Souza.
“Tudo que ela não fez, ela quer que gente faça, porque eu acho que ela não teve oportunidade que nem a gente está tendo”, acredita Gabriela.
“Eu quero que ela levante de manhã cedo e ela já saiba o que ela tem que fazer, as obrigações dela”, comenta Gislene, mãe de Gabriela.
“Curso de espanhol, de alemão, de umas coisas que eu nem sei o que são”, diz Gabriela.
No fundo, existem duas possibilidades. Uma é a posição credora, em que o custo vem antes e o benefício depois. A mãe da Gabriela quer que ela assuma uma posição credora na vida. Sacrifícios agora, vida melhor depois.
Na posição devedora, o benefício é aqui e agora, mas o custo vem depois.
A Gabriela quer aproveitar a vida já, mas isto custará caro amanhã.
“a única coisa que ela tem vontade é de dançar e ouvir música”, diz Gislene.
“Acontece muito de eu estar estudante e ficar pensando que eu queria estar em um lugar ou eu outro que não fosse o que eu estou”, conta Gabriela.
Se eu resolvo parar de estudar porque quero me divertir; ou deixar de fumar porque quero viver mais anos. Se resolvo aprender chinês porque dizem que essa vai ser a língua do futuro, eu estou interferindo na seqüência dos acontecimentos na esperança de os meus projetos virem realidade.
Viver agora e pagar depois ou pagar agora e viver depois? O que escolher?
“Eu acho que ter aquele negócio controlado, se puder reservar um pouquinho é bom. A vida no campo é uma vida boa. Nunca fiz um empréstimo. Sempre na luta, a gente dá um jeitinho na roça, trabalha, vende o gado e dá um jeitinho”, diz o agricultor José Alvarenga.
As trocas do tempo acompanham nossa trajetória no mundo. Mas não apenas a nossa. Também os animais e, até mesmo as plantas, fazem suas trocas entre o aqui e agora e o futuro. Também eles procuram a melhor maneira de sobreviver e garantir a continuidade da espécie.
Da maria sem-vergonha ao jacarandá secular, da borboleta ao jabuti. Todos os seres vivos têm um ciclo de vida e um futuro a zelar. E todos eles desenvolvem mecanismos de realizar trocas no tempo.
Veja o que acontece, por exemplo, no reino vegetal. Numa floresta há sol e chuva durante todo o ano e a vegetação tem seu sustento garantido.
Mas e onde a natureza é menos generosa e os invernos são rigorosos, com grandes variações de calor, luz e chuvas?
“A primeira coisa que as árvores precisam saber é que o inverno está chegando. E elas percebem isso porque os dias vão ficando cada vez mais curtos. Quando isso ocorre, elas começam a tomar as medidas necessárias para atravessar o inverno. A principal medida delas é desativar as folhas. Elas vão nas folhas e retiram todos os nutrientes das folhas e estocam esses nutrientes em trocos. A retirada desses nutrientes fazem as folhas ficarem amarelas e no fim elas caem e morrem. Os nutrientes garantem que a árvore sobreviva a toda o inverno. Quando chega a primavera, as árvores remobilizam esses nutrientes e usam esses nutrientes, essa comida, essa poupança que eles fizeram durante o ano anterior, para lançar novas folhas”, explica o botânico Fernando Reinach.
Assim como acontece com cada um de nós, na natureza os mecanismos da troca no tempo são também de dois tipos: ou o benefício é antecipado no tempo e os custos chegam depois, ou os custos vêm antes dos benefícios.
Viver agora e pagar depois ou pagar agora e viver depois? A questão é saber o que desejamos e como dar consistência no tempo aos nossos desejos.
De um lado está a lógica: o que queremos precisa respeitar as regras do que é possível. Mas do outro está o sonho. Porque o futuro também obedece à ousadia do nosso querer.



quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Barco à deriva


"Tenho andado distraído, impaciente e indeciso, e ainda estou confuso só que agora é diferente, estou tão tranqüilo e tão contente; quantas chances desperdicei quando o que eu mais queria era provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada para ninguém?" (Quase sem querer - Renato Russo com a Legião Urbana)

"Tanto faz não satisfaz o que preciso, além do mais quem busca nunca é indeciso; eu busquei quem sou, você pra mim mostrou que eu não sou sozinha nesse mundo" (Cuida de mim - O Teatro Mágico)

Um monte de sentimento misturado, massa amorfa, indefinido. Acho melhor continuar deixando o barco correr, com liberdade para escolher o próprio destino... sentimentos vem e vão, vão e vem, ondas ondeando ao sabor do vento; se elas farão o barco afundar ou o levarão para algum porto seguro, só o vento, ou melhor, o tempo, dirá...

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Pensamentos particulares e literários


Deixei o blog no vácuo durante alguns dias. Me faltou o que falar, ou talvez tivesse tanto a dizer que tenha travado... sei lá.

Voltei a trabalhar de novo, mais desencanada do que nunca. Acho que levei a sério demais quando decidi que a palavra de ordem no trabalho passaria a ser DESENCANAR. Desencanei de tal forma que acho que fiquei até meio relapsa.

Ao mesmo tempo, tô precisando arrumar um segundo emprego logo porque meu salário não tá dando pra pagar as minhas contas. Como estou pretendendo fazer uma viagem longa, vou precisar de grana, e desta vez viajo nem que tenha que vender cachorro quente nas horas vagas.

Cabeça tranqüila, apesar dos dias intensos que tenho vivido, talvez os mais intensos da minha vida. Coração aos pulos, numa instabilidade estável, já ouviu essa? Nem me pergunte o que eu quis dizer porque nem eu mesma vou saber explicar. Basta saber que paradoxos existem na vida, e como existem... talvez um dia, em breve, eu consiga escrever sem usar tantos enigmas e reticências... (...)


... ... ... ...



Acabei de ler "Memórias de minhas putas tristes", de Gabriel García Márquez, o primeiro dele que leio, apesar de ter feito curso de literatura hispano-americana na faculdade e ter cansado de ouvir falar no homem e no seu famoso livro "Cem anos de solidão". Na verdade, prefiro Julio Cortázar, com seus cronópios e famas. Mas García Márquez cultiva o estilo típico do fantástico hispano-americano, em que realidade e fantasia se confundem. É a história de um homem que descobre o amor pela primeira vez na vida aos noventa anos de idade, depois de ter vivido uma vida "amorosa" e profissional medíocre e dormido a vida inteira com prostitutas que encontrava uma vez ou outra na noite.

Para comemorar o seu aniversário de noventa anos, o protagonista resolve ligar para a dona de um bordel para que esta lhe encontre uma adolescente de no máximo quatorze anos, virgem. Na noite do primeiro encontro, ele dá de cara com a mocinha dormindo nua e sente nela talvez a nobreza e a inocência que nunca encontrou nas outras mulheres de sua vida. Ele passa a dormir quase todas as noites com ela, mas sem tocá-la e sem nunca acordá-la, cultivando por ela uma espécie de amor platônico, já que ele só tem contato com ela durante a noite, enquanto ela está dormindo, pois teme conhecê-la acordada e acabar com o encanto da bela adormecida. Meio maluco, meio romântico, ele leva presentes pra ela, passa a enfeitar o quarto em que os dois dormem, deixa recados no espelho com batom, lê histórias para ela, inclusive a da Bela Adormecida. O fato é que o sentimento que ele passa a sentir pela menina muda completamente a sua percepção de vida, isso aos noventa.

Não dá pra ficar descrevendo, só lendo para sentir. Seria bom reparar no estilo de escrita do autor, em que a narração se mistura ao discurso direto, dispensando o uso de travessões ou aspas para representar a fala das personagens. Talvez esse estilo contribua para o efeito de mistura entre sonho e realidade que acontece em alguns momentos. Tenho que fazer uma leitura mais detalhada para poder descobrir.

Estilo e técnica à parte, temos aí uma obra de um grande escritor, sem sombra de dúvidas. Uma história de amor e de vida.

Quero destacar a passagem em que o protagonista, já tomado pelo sentimento de amor profundo pela menina, compra uma bicicleta para lhe dar de presente de aniversário, dizendo que lhe inquietava o fato de ela ser "tão real a ponto de fazer aniversário". Ao comprar a bicicleta, ele não resiste e resolve dar uma volta nela, tomado de uma alegria intensa de viver. Na minha humilde opinião, essa passagem resume todo o estado de espírito, leve, espontâneo, atrevido e rejuvenescedor, que só um grande amor consegue trazer:


"Quando fui comprar a melhor bicicleta não consegui resistir à tentação de experimentá-la e dei algumas voltas a esmo na rampa da loja. Ao vendedor que me perguntou a minha idade respondi com graça da velhice: Vou fazer noventa e um. O empregado disse exatamente o que eu queria: Pois parece vinte a menos. Eu mesmo não entendia como havia conservado aquela prática do colégio, e me senti sufocado por um gozo radiante. Comecei a cantar. Primeiro para mim mesmo, em voz baixa, e depois a todo vapor, com ares de grande Caruso, pelo meio dos bazares atopetados e o tráfego demente do mercado público. As pessoas me olhavam, divertidas, e gritavam para mim, me incitavam a participar na Volta Colômbia em cadeira de rodas. Eu lhes fazia com a mão uma saudação de navegante feliz sem interromper a canção. Naquela semana, em homenagem a dezembro, escrevi outra crônica atrevida: "Como ser feliz aos noventa anos em uma bicicleta".
(García Márquez, Gabriel. Memórias de minhas putas tristes, 17a. ed. Tradução de Eric Nepumoceno. Rio de Janeiro : Record, 2007, pg. 81)

domingo, 29 de julho de 2007

E por falar em falta de sintonia...

Ana Carolina - Carvão

Surgiu como um clarão
Um raio me cortando a escuridão
E veio me puxando pela mão
Por onde não imaginei seguir
Me fez sentir tão bem, como ninguém
E eu fui me enganando sem sentir
E fui abrindo portas sem sair
Sonhando às cegas, sem dormir
Não sei quem é você


O amor em seu carvão
Foi me queimando em brasa no colchão
E me partiu em tantas pelo chão
Me colocou diante de um leão
O amor me consumiu, depois sumiu
E eu até perguntei, mas ninguém viu
E fui fechando o rosto sem sentir
E mesmo atenta, sem me distrair
Não sei quem é você

No espelho da ilusão
Se retocou pra outra traição
Tentou abrir as flores do perdão
Mas bati minha raiva no portão
E não mais me procure sem razão
Me deixe aqui e solta a minha mão
E fui flechando o tempo, sem chover
Fui fechando os meus olhos, pra esquecer
Quem é você?

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Este recesso tá rendendo...


Olha o que a falta do que fazer causa na gente! Vasculhando as minhas coisas velhas, papeladas, livros e afins, encontrei um caderno velho, de uns dez anos atrás, em que eu anotava coisas da minha vida, impressões e opiniões sobre o mundo ao meu redor, mais ou menos o que faço nesse blog hoje. Lá eu encontrei uns poeminhas; uma carta de amor que eu nunca enviei e não lembro mais pra quem escrevi; e um texto. Esse texto, escrito por mim em novembro de 97, me chamou a atenção. Como eu tinha uma imaginação fértil.

Tinha eu na época, 21 anos. Nem pensava em fazer Letras na USP, não sabia direito que carreira queria seguir ou se iria seguir alguma carreira. Trabalhava numa loja de doces no mesmo bairro onde ainda moro, mas sonhava com coisas maiores, bem maiores...

Bom, o texto fala sobre poesia, mas não é um poema. Eu tinha o hábito de escrever poemas desde os doze anos e tinha um caderno em que todos eles estavam registrados. É sobre esse caderno que eu falo no texto, mas, acima de tudo, é sobre poesia e sobre sua importância em nossa vida que eu escrevo.

Queria registrá-lo aqui, com os erros de português que cometia na época. Modéstia à parte, não eram muitos. (RS)


"Até hoje não sei se o que escrevo, às vezes, é poesia ou não, gosto de acreditar que seja, gosto de mostrar aos outros, mesmo que para os outros mostrar ou não mostrar não faça muita diferença. Às vezes fico pensando no que Vinícius de Moraes diria se lesse o meu caderno de poesias pessoais. Daria risada, será? Me daria uns toques, me diria que não tenho talento nenhum ou simplismente usaria os meus "trabalhos" para limpar o traseiro quando fosse soltar uns barros? Ou será que os acharia tão bons a ponto de plagiá-los ou publicá-los como se fossem seus, já que eu não tenho registro algum de direitos autorais?

Gosto de pensar nos meus escritos como se fossem comparáveis a grandes obras de grandes poetas brasileiros. É gozado. Já cheguei até a pensar numa outra situação: se de repente o mundo acabasse e grande maioria da população mundial fosse dizimada da Terra, todos os livros de todos os autores, poetas, escritores se perdesse para sempre e o mundo ficasse sem registros escritos. Então, num futuro meio deistante, os descendentes dos poucos sobreviventes que restariam formariam uma nova nação, e esta nova nação formaria novas gerações, até que o mundo voltasse a ficar totalmente povoado de novo. E, num ano qualquer do futuro, um grupo de escavadores e arqueólogos, em busca de fósseis e objetos que se perderam com o apocalipse, num dia claro de sol, fazendo suas pesquisas sobre o passado pré-histórico da Terra ( o nosso presente de agora) descobririam um importante achado: uma amontoado de papéis amarelados formando o que um dia já foi uma espécie de caderno pré-histórico, com um monte de rabiscos incompreensíveis. Ficariam maravilhados com a descoberta, achando que certamente fizeram a descoberta mais importante da história da arqueologia pós-apocalíptica. Convocariam toda a imprensa para divulgar o achado; colecionadores de antiguidades do mundo inteiro viriam na tentativa de comprar os manuscritos oferecendo milhões por eles; especialistas em decirar códigos viriam na tentativa de descobrir o significado daquelas palavras incompreensíveis.

Mas, somente um velho, por sinal o último descendente do povo "Brasiliano" no mundo, apareceria do nada e decifraria o enigma daquele monte de palavras: ele leria, traduziria para o mundo inteiro e chegaria a seguinte conclusão: "esta é a língua dos meus antepassados e estas palavras são simplesmente POESIA. Foram escritas por uma mulher, certamente muito jovem. Pela ingenuidade das palavras, e pela angústia que elas passam, são próprias de quem ainda é muito jovem".

O Velho Sábio se retiraria e desapareceria do mesmo modo como apareceu e deixaria todo mundo com um ponto de interrogação na cabeça. Ninguém saberia explicar por não saber o que é poesia. Demoraria ainda muito tempo até que se percebesse que a poesia daqueles escritos antigos era a poesia que existia dentro deles mesmos o tempo todo, porque todo homem é poeta por natureza mesmo que não saiba ser, somente pelo fato de ter sentimentos.

E então a poesia brotaria aos montes no coração de todos e todos colocariam seus versos para fora. Talentos contidos apareceriam e fariam sucesso com suas poesias; descobririam-se descendentes de poetas da era pré-apocalíptica e aqueles que já sabiam da existência da poesia há muito tempo mas não tinham coragem nem oportunidade de se expressar com seus trabalhos desprezados e incompreendidos pela sociedade teriam então o seu valor.

E tudo isso se deveria a um punhado de manuscritos velhos que seriam vendidos a um multi-milionário colcionador a preço de ouro ou doados para um grande museu histórico. O dia de sua descoberta seria o feriado mundial para a comemoração do Dia da Poesia.

Nem preciso falar que tais escritos são as poesias do meu caderno de poesias pessoais, né? Chega a ser até engraçada a minha imaginação.

Minhas poesias podem não ter aquelas estruturas que muitos poetas usam; as rimas podem ser pobres, as frases mal colocadas, talvez, mas eu gosto de pensar nelas como uma obra de arte, simplesmente pela sensação que me dão quando as escrevo: às vezes de dor, de alegria, de alívio, de poder, enfim, de ser um 'ser alguém' ". (Patricia, 30/11/97)


Nossa, juro que eu nunca usei drogas pesadas e, portanto, não estava sob o efeito de nenhuma delas quando escrevi isso... Imaginação fértil e lunática. Acho que não mudei muito desde então. Continuo sendo meio lunática, como só os românticos conseguem ser...

Ah, o caderno de poemas, esse há anos que eu não sei mais por onde anda. Já procurei em todos os cantos e não encontrei. De repente, já está até enterrado para ser encontrado pela posteridade pós-apocalíptica...

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Até quando?


Estamos nós aqui direto do país em que se arrasta criancinhas penduradas do lado de fora do carro por vários quilômetros de distância e depois se esquece de tudo caindo na farra carnavalesca; direto do país que luta numa verdadeira guerra contra o tráfico, mas que esquece de tudo para catarticamente torcer pela vitória do Brasil nos jogos panamericanos (aliás, repararam como a mídia parou de noticiar qualquer tipo de violência no Rio desde mais ou menos uma semana antes do início dos Jogos? É como se a cidade de repente, do nada, se tornasse a mais linda e segura do Brasil).

Estamos aqui direto do país que peca pela omissão, pela negligência, pela falta de memória coletiva. Menos de dez meses depois de um acidente aéreo que matou 154 pessoas e causou uma crise no sistema de aviação brasileira que dura até hoje, acontece mais um , o maior deles, em São Paulo, acidente que além de não ter deixado sobreviventes entre os 180 ocupantes do avião, ainda matou gente em terra.

Assusta sim, porque aconteceu bem aqui na porta de casa, por assim dizer. Mas o que assusta mais é saber que essas pessoas morreram de morte que podia ter sido evitada, porque já se sabia que a pista do aeroporto de Congonhas não era lá muito confiável em dia de chuva e não se fez nada de realmente concreto pra resolver o problema. Omissão, negligência. Um dia antes, um avião derrapou na pista, e outros mais já haviam derrapado antes, em dias e anos anteriores, como que já antecipando que algo pior poderia acontecer. E não se fez nada.

Agora, como é de se esperar, ficamos pensando nas pessoas que perderam parentes e amigos nesse acidente: pais e mães que perderam os filhos ou filhas; filhos que perderam pais; amigos que perderam amigos, enfim...

E também tô pensando no que pensaram as pessoas do avião e do prédio em que ele se chocou quando perceberam que iriam morrer: será que perceberam mesmo? Será que a gente tá preparado pra morte quando ela vem pra gente? Será que essas pessoas sofreram pra morrer ou nem sentiram? Será que a gente vai continuar passando por essas situações absurdas, de falta de segurança no ir e vir em todos os sentidos; de falta de condições de vida digna com emprego e moradia pra todo mundo? Vamos continuar vivendo com um dos piores níveis de qualidade educacional do mundo, com a corrupção que assola o serviço público e privado em todo país de maneira ridícula? E vamos continuar não fazendo nada, assistindo a tudo como um bando de alienados?

Tanta coisa passou pela minha cabeça essa noite que até perdi o sono... acordei pensando em tudo isso e no que eu poderia fazer pra não ser mais uma alienada, mais uma desmemoriada. Acho que de certa forma já estou fazendo, ou tentando humildemente fazer quando exerço a minha função de professora e educadora na escola pública em que trabalho. Entendo que o meu papel é o de buscar fazer com que esses adolescentes adquiram a consciência crítica que todo cidadão precisa ter para viver de maneira ativa em sociedade. É uma missão difícil, mas faz parte da minha função. É o que vou procurar fazer, da maneira mais honesta possível.

Cada um tem que buscar a sua forma de se revoltar contra tudo isso que acontece de baixo dos nossos narizes sem que aparentemente possamos fazer nada para mudar. O que a gente não pode é continuar esperando que situações absurdas gerem sofrimentos irreversíveis como esse e outros.


E pensar que pessoas vivas e saudáveis de repente tornam-se apenas lembranças...