sexta-feira, 27 de março de 2009

Esqueceram de mim


Meu pai precisou fazer um exame de colonoscopia a pedido do médico. Marcou o dia, 24 de março, no Hospital Nardini aqui em Mauá, e lá mesmo entregaram um papel com as instruções de preparação para o exame. A rigorosa preparação incluia uma dieta à base de chá e bolacha durante um dia inteiro e a ingestão de dois medicamentos que custaram quarenta reais ao bolso do meu pai.

Para fazer esse exame, meu pai perdeu um dia de trabalho, afinal para um homem que pega pesado feito ele, passar o dia à base de chá e bolacha seria impossível. Além disso, os medicamentos tinham como objetivo limpar o intestino, o que exigiu que o meu pai passasse boa parte do tempo no banheiro.

O exame estava marcado para às cinco horas da tarde e eu fiquei incumbida de ir buscar, após o trabalho, a ele e a minha mãe que o estava acompanhando.Quando cheguei lá, já às seis e meia, vi os dois sentados, meu pai com aparência abatida e nem sinal de que iria ser atendido. Já estranhei daí. Como estava com vontade ir ao banheiro, resolvi entrar em um que tinha ali perto da sala de espera. Minha mãe me acompanhou com o papel higiênico na bolsa porque segundo ela "quando a gente vem aqui, tem que trazer tudo de casa, copo para tomar água, papel higiênico, porque aqui não tem nada". Entramos no banheiro e aquele buduin de banheiro de rodoviária invadiu as narinas, parecia que há séculos o banheiro não era lavado. Tocamos no interruptor para acender a luz e... nada de luz. Tive que mijar no escuro numa privada sem tampa, sem enxergar direito onde estava. Já saí do banheiro alarmada. Claro que mijei em pé. Como é que um hospital, atendendo a tantos pacientes com enfermidades diversas, não tem um banheiro com mínimas condições de uso ?

Minha mãe estava preocupada porque queria ir para casa fazer o jantar e meu pai poder comer uma refeição decente após o exame. Combinamos que eu levaria minha mãe para casa e depois voltaria sozinha para buscá-lo.

Cheguei em casa, ainda lanchei, e quando voltei quase sete e meia da noite, duas horas e meia depois da hora em que o exame havia sido marcado, encontrei meu pai praticamente sozinho na sala de espera.

Injuriada, fui até o guichê de atendimento para perguntar por que o meu pai ainda não havia sido atendido. A atendente explicou que o papel delas era fazer a ficha dos pacientes, colocar em cima da mesa e depois era só esperar que a auxiliar de enfermagem viesse buscar o paciente para o exame. Pois é, você foi buscar o meu pai para fazer o exame? Nem a auxiliar de enfermagem foi.

A atendente subiu para ver o que tinha acontecido e dez minutos depois desceu explicando que a auxiliar pedia desculpas, não sabia o que tinha acontecido, mas que havia ESQUECIDO DE BUSCAR O PACIENTE. Pedia ainda para que meu pai retornasse na segunda-feira. O quê?!!! Gastar ainda mais dinheiro do bolso, perder mais um dia de trabalho, passar o dia inteiro de jejum outra vez para correr o risco de passar por esse descaso, essa falta de respeito, tudo outra vez? Nem pensar, foi a resposta do meu pai. A atendente ainda insinuou que talvez as auxiliares tivessem dormido em serviço. ABSURDO!!

Por aí você pode ter uma idéia de como o sistema de saúde do município de Mauá está péssimo.

ABAIXO O HOSPITAL-AÇOUGUE NARDINI, em que por mais de uma vez ouvi casos em que os pacientes entram sadios e saem doentes, entram doentes e saem dentro de caixão.

Entendo que a situação da saúde pública, assim como o da educação pública, é ruim, que as condições de trabalho sejam péssimas, mas educação, consideração, amor pela profissão e principalmente ao próximo independem de condições externas.

Até quis reclamar, fazer alarde, chamar imprensa, mas meus pais não querem, acham que tudo foi um livramento de Deus, já que se o exame não aconteceu é porque talvez se meu pai tivesse entrado para fazê-lo, poderia acontecer algo pior com ele lá dentro. Veja só você a fama do hospital.

Veja você a herança deixada pela gestão passada que, além de ter ficado no poder por quatro anos sem ter sido eleito pelo voto do povo, ainda não fez nada para melhorar de fato os problemas da cidade e ainda conseguiu piorar o que já era ruim, esse famigerado hospital.

terça-feira, 17 de março de 2009

O sonho acabou


Após um mês trabalhando na escola nova, devo dizer que realmente o sonho do aluno ideal é uma verdadeira utopia mesmo.

As condições de trabalho não são das melhores: falta material pra se trabalhar, faltam funcionários e, acima de tudo, falta segurança. Nunca tive medo de trabalhar em lugar nenhum, apesar de saber que em praticamente todas as escolas existem os ditos "elementos". Nesta, sinto que a barra pode ficar pesada, como já está ficando. Sexta-feira, sei lá eu como, puseram fogo no cabelo de uma das funcionárias. Não chegou a machucá-la, mas já é um acontecimento sério demais pra ocorrer dentro de uma escola.

Claro que os responsáveis pelo indivíduo foram chamados, apareceu o pai que não se fez de rogado e falou horrores do próprio filho e, assim, descobriu-se que o elemento esteve preso por um mês. Um relatório foi feito e encaminhado para o Conselho Tutelar. O que vai acontecer? Não sei, mas nessas ocasiões sempre sinto cheiro de pizza no ar.

Em uma das salas, só consigo dar aulas se mandar três ou quatro alunos tomar um ar lá fora; caso contrário, quem sai sou eu.

A escola, a meu ver, foi mal construída: num lugar em que o barulho externo é muito grande. Os muros, ou melhor, as grades, são muito fáceis de serem escaladas, e a comunidade tem acesso muito fácil à escola a qualquer hora. Isso seria positivo se a comunidade realmente fosse participativa e se somente a porção, digamos assim, "do bem" é que tivesse acesso fácil ao ambiente escolar. Isso não acontece e, infelizmente, estamos potencialmente expostos a situações de violência.

Claro que já percebemos que esses "elementos" estão nos testando ao máximo para ver o quanto podemos recuar por medo de represálias. Querem nos inibir para poderem dominar. Corajosos como somos, mesmo perigosamente expostos, vamos fazer o máximo para nos impor e mostrar a eles que, dentro da escola, todos tem obrigações a cumprir e que liberdade e libertinagem são coisas totalmente diferentes.