quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Isto é só o fim...


Alunos promovem quebradeira em escola pública do bairro do Belenzinho em SP. A escola ficou destruída e foi obrigado a PM baixar pra pôr ordem na bagunça. E a mídia vem cada vez mais dando destaque aos casos de violência na escola. Só esse ano devo ter visto umas quatro ou cinco reportagens sobre o assunto. Professor sendo agredido verbalmente já nem dá mais pra colocar em estatística, porque é todo dia que acontece. E sabe-se que a violência física também existe, tanto entre os próprios alunos quanto de alunos contra professores e funcionários.
Por curiosidade, tava pesquisando sobre o assunto e achei um artigo de Portugal, e olha só, o professor luzitano sofre dos mesmos males que a gente nas escolas da terra de Camões. Também tomei emprestado do site a foto que ilustra o post. Leia e perceba a impressionante semelhança com a nossa realidade:
"Li num jornal que a senhora ministra da Educação está contente. E, quando os nossos governantes estão contentes, é como se um sol raiasse nas nossas vidas.
E está contente porque, segundo afirmou, a violência nas escolas portuguesas, afinal, não existe.
Ao que parece, andamos todos numa de paz e amor, lá fora é que as coisas tomam proporções assustadoras, os nossos brandos costumes continuam a vingar nos corredores de todas as EB, 2/3, ou como é que as escolas se chamam agora. Tenho muita pena de que os nossos governantes só entrem nas escolas quando previamente se faz anunciar, com todas as televisões atrás, para que o momento fique na História. É claro que, assim, obrigada, também eu, anda ali tudo alinhado que dá gosto ver, porque o respeitinho pelo Poder é coisa que cai sempre bem no coração de quem nos governa, e que as pessoas gostam de ver em qualquer telejornal.
Mas bastaria a senhora ministra entrar incógnita em qualquer escola deste país para ver como a realidade é bem diferente daquela que lhe pintaram ou que os estudos (adorava saber como se fazem alguns dos estudos com que diariamente se enchem as páginas dos jornais) proclamam. É claro que não falo daquela violência bruta e directa, estilo filme americano, com tiros, naifadas e o mais que houver.
Falo de uma violência muito mais perigosa porque mais subtil, mais pela calada, mais insidiosa. Uma violência mais 'normal'.
E não há nada pior do que a normalização, do que a banalização da violência.
Violência é não saberem viver em comunidade, é o safanão, o pontapé e a bofetada como resposta habitual, o palavrão (dos pesados...) como linguagem única, a ameaça constante, o nenhum interesse pelo que se passa dentro da sala, a provocação gratuita ('bata-me, vá lá, não me diga que não é capaz de me bater? Ai que medinho que eu tenho de si...', isto ouvi eu de um aluno quando a pobre da professora apenas lhe perguntou por que tinha chegado tarde...)
Violência é a demissão dos pais do seu papel de educadores - e depois queixam-se nas reuniões de que 'os professores não ensinam nada'.Porque, evidentemente, a culpa de tudo é sempre dos professores - que não ensinam, que não trabalham, que não sabem nada, que fazem greves,qualquer dia - querem lá ver? - até fumam...
Os seus filhos são todos uns anjos de asas brancas e uns génios incompreendidos.
Cada vez os pais têm menos tempo para os filhos e, por isso, cada vez mais os filhos são educados pelos colegas e pela televisão (pelos jogos, pelos filmes, etc.). Não têm regras, não conhecem limites,simples palavras como 'obrigada', 'desculpe', 'se faz favor' são-lhes mais estranhas do que um discurso em Chinês - e há quem chame a isto liberdade. Mas a isto chama-se violência. Aquela que não conta para os estudos 'científicos', mas aquela da qual um dia, de repente, rompe a violência a sério. E então em estilo filme americano. Com tiros, naifadas e o mais que houver. "
Alice Vieira escreve no JN, quinzenalmente, aos domingos
Repare, leitor, que a realidade da educação portuguesa descrita no artigo é igualzinha à nossa realidade aqui na terra brasilis, exceto por um único detalhezinho besta: a violência bruta e direta, estilo filme americano, com tiros, naifadas (que palavra é essa?) e o que mais houver, já existe nas nossas escolas há um bom tempo.