segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Quanta nostalgia!

(foto tirada em junho de 1982)

Depois de um fim-de-semana de calor de verão, o dia amanheceu frio e chuvoso. As mudanças no clima parecem as minhas mudanças de humor, num dia é a alegria mais eufórica; no outro, a angústia mais profunda. Acordei nostálgica hoje, mais do que o normal.

Tô ouvindo Roberto Carlos agora. Brega pra caralho. Mas pra mim RC é o brega mais chique que existe. Ouço as músicas mais antigas dele e me lembro de quando eu tinha 5 anos e ficava na porta de casa vestida com o meu unifome azul-marinho, daqueles uniformes com duas listras brancas na lateral. Lancheira com suquinho Tang de laranja e um lanchinho de presunto, às vezes uma fruta ou um choquito, que sempre acabava sumindo da minha lancheira por obra de mão grande de algum colega mal intencionado. Sempre levava uma bronca da minha mãe quando chegava em casa, como se tivesse culpa de ter sido roubada.

E lá ficava eu na porta de casa esperando a perua do tio Ramon, que passava na minha casa pontualmente ao meio-dia pra me pegar pra ir pra escolinha de jardim da infância, que ficava no centro de Mauá. E o que o bendito tio Ramon escutava no rádio da perua? Roberto Carlos, claro.

É incrível como algumas coisas que vivemos na infância marcam pelo resto da vida. Escutar Roberto Carlos é como voltar por alguns momentos a esses tempos idos e viver tudo de novo.

Lembrar da vez em que eu tava sentada no balanço do pátio e uma cadeira quebrada escapou e veio direto na minha cara, coisas que só comigo aconteciam; cortei o supercílio e mais uma vez levei uma bronca da minha mãe quando cheguei em casa, como se tivesse culpa de ter sofrido um acidente. Parece que de raiva, mesmo eu estando já medicada, ela veio e tacou um mertiolate no ferimento. Lembrando que naquele tempo mertiolate ardia pra caramba, aff.

A escolinha tinha algumas atividades extraescolares: aula de balé para as meninas e caratê para os meninos. Minha mãe me matriculou no balé, claro. Mas eu queria mesmo era fazer caratê. Na minha cabecinha de cinco anos, não entendia por que tinha que fazer uma coisa que eu não queria só porque dizia-se que era mais apropriado pra meninas.

Me obrigaram a dançar a quadrilha da festa junina com um menino que eu detestava. Bom, a verdade é que sempre fui muito tímida e tinha horror a ser colocada no centro das atenções. Mas, enfim, dancei a famigerada quadrilha. Lembro até hoje da vergonha que senti de vestir aquele vestidinho caipira com sapatinho melissa e meia branca 3/4; o chapéu com tranças postiças e o cabelo escovado pela minha mãe orgulhosa da filha que ia dançar quadrilha pela primeira vez. Minha cara na foto acima não me deixa mentir, cara feia que contrasta com a cara alegre e zombeteira do meu par. Fui voltar a dançar uma quadrilha 26 anos depois, ou seja, na última festa junina. Cheguei a postar sobre isso aqui. Pois é, superei o trauma da primeira quadrilha e me diverti um bocado.

Tudo isso eu escrevi por quê? Ah, porque ouvir Roberto Carlos me faz lembrar tudo isso. Embora agora, depois de escrever isso, eu esteja mais pra Cássia Eller: "quem sabe eu ainda sou uma garotinha esperando o ônibus da escola sozinha, cansada com minhas meias 3/4, rezando baixo pelos cantos, por ser uma menina má".

Quem sabe eu não sou mesmo aquela garotinha, ainda?


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