Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
(Carlos Drummond de Andrade)
Acho que tô pirando de vez. Outro dia tentei tirar o carro da garagem sem abrir o portão antes. Carro-fantasma... ou será que era eu o fantasma? Ontem saí da sala da quinta série arremessando livro na parede depois de ter lutado em vão para fazê-los calar a boca. À noite me deitei e sonhei que estava trepando com o Reinaldo Gianecchini dentro de uma piscina e com um monte de gente olhando em volta. Valeu porque era o Reinaldo Gianecchini, o único homem pra quem eu daria sem medo de ser feliz. Mas cá entre nós, que sonho estranho.
Antes de dormir eu estava lendo o volume sobre Edvard Munch da coleção dos grandes mestres da pintura da Folha de SP. Dormi e sonhei também com os quadros dele. Aliás, dos pintores que eu ainda não conhecia nessa coleção, ele foi o que mais me impressionou, pela marca profunda de subjetivismo que ele deixou nas suas obras. Me identifiquei com o tom de angústia presente em quase todos os seus quadros. Todo mundo conhece o famoso "O grito", cujo rosto deformado do personagem inspirou a máscara do assassino do filme "Pânico". Mas de todo os que mais me impressionou mesmo foi o que ilustra esse post. O nome do quadro é " A dança da vida".
Esse quadro é quase uma narrativa em forma de pintura. Duas figuras femininas cercam um casal completamente alheio ao que acontece ao redor. O quadro parece falar sobre as fases do amor na vida da mulher. A mulher de branco da esquerda é jovem e simboliza, segundo o livro da coleção, a pureza do primeiro amor, virgem como a cor branca que seu vestido indica. A da direita, mais velha e vestida de preto, simboliza a perda das ilusões amorosas que vem com a experiência. Ela olha para o casal que dança no centro com ar de desaprovação. Por sua vez, o par feminino do casal veste vermelho, a cor da paixão. Ela tá no auge do vigor amoroso e sexual. Vale reparar a conotação fálica que o reflexo do sol na água ao fundo sugere. Dessa forma o quadro sintetiza as fases do amor na vida desde a pureza do primeiro amor, passando pelo auge do vigor amoroso até findar na desilusão. É uma visão pessimista a que o pintor passa, mas faz parte do estilo dele. Até arriscaria o palpite de que na verdade as três mulheres retratadas em primeiro plano na verdade são a mesma mulher representada em três fases diferentes. Achei genial!
Enfim, é assim. Minha vida neste momento é um quadro de Munch.
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