quinta-feira, 19 de julho de 2007

Este recesso tá rendendo...


Olha o que a falta do que fazer causa na gente! Vasculhando as minhas coisas velhas, papeladas, livros e afins, encontrei um caderno velho, de uns dez anos atrás, em que eu anotava coisas da minha vida, impressões e opiniões sobre o mundo ao meu redor, mais ou menos o que faço nesse blog hoje. Lá eu encontrei uns poeminhas; uma carta de amor que eu nunca enviei e não lembro mais pra quem escrevi; e um texto. Esse texto, escrito por mim em novembro de 97, me chamou a atenção. Como eu tinha uma imaginação fértil.

Tinha eu na época, 21 anos. Nem pensava em fazer Letras na USP, não sabia direito que carreira queria seguir ou se iria seguir alguma carreira. Trabalhava numa loja de doces no mesmo bairro onde ainda moro, mas sonhava com coisas maiores, bem maiores...

Bom, o texto fala sobre poesia, mas não é um poema. Eu tinha o hábito de escrever poemas desde os doze anos e tinha um caderno em que todos eles estavam registrados. É sobre esse caderno que eu falo no texto, mas, acima de tudo, é sobre poesia e sobre sua importância em nossa vida que eu escrevo.

Queria registrá-lo aqui, com os erros de português que cometia na época. Modéstia à parte, não eram muitos. (RS)


"Até hoje não sei se o que escrevo, às vezes, é poesia ou não, gosto de acreditar que seja, gosto de mostrar aos outros, mesmo que para os outros mostrar ou não mostrar não faça muita diferença. Às vezes fico pensando no que Vinícius de Moraes diria se lesse o meu caderno de poesias pessoais. Daria risada, será? Me daria uns toques, me diria que não tenho talento nenhum ou simplismente usaria os meus "trabalhos" para limpar o traseiro quando fosse soltar uns barros? Ou será que os acharia tão bons a ponto de plagiá-los ou publicá-los como se fossem seus, já que eu não tenho registro algum de direitos autorais?

Gosto de pensar nos meus escritos como se fossem comparáveis a grandes obras de grandes poetas brasileiros. É gozado. Já cheguei até a pensar numa outra situação: se de repente o mundo acabasse e grande maioria da população mundial fosse dizimada da Terra, todos os livros de todos os autores, poetas, escritores se perdesse para sempre e o mundo ficasse sem registros escritos. Então, num futuro meio deistante, os descendentes dos poucos sobreviventes que restariam formariam uma nova nação, e esta nova nação formaria novas gerações, até que o mundo voltasse a ficar totalmente povoado de novo. E, num ano qualquer do futuro, um grupo de escavadores e arqueólogos, em busca de fósseis e objetos que se perderam com o apocalipse, num dia claro de sol, fazendo suas pesquisas sobre o passado pré-histórico da Terra ( o nosso presente de agora) descobririam um importante achado: uma amontoado de papéis amarelados formando o que um dia já foi uma espécie de caderno pré-histórico, com um monte de rabiscos incompreensíveis. Ficariam maravilhados com a descoberta, achando que certamente fizeram a descoberta mais importante da história da arqueologia pós-apocalíptica. Convocariam toda a imprensa para divulgar o achado; colecionadores de antiguidades do mundo inteiro viriam na tentativa de comprar os manuscritos oferecendo milhões por eles; especialistas em decirar códigos viriam na tentativa de descobrir o significado daquelas palavras incompreensíveis.

Mas, somente um velho, por sinal o último descendente do povo "Brasiliano" no mundo, apareceria do nada e decifraria o enigma daquele monte de palavras: ele leria, traduziria para o mundo inteiro e chegaria a seguinte conclusão: "esta é a língua dos meus antepassados e estas palavras são simplesmente POESIA. Foram escritas por uma mulher, certamente muito jovem. Pela ingenuidade das palavras, e pela angústia que elas passam, são próprias de quem ainda é muito jovem".

O Velho Sábio se retiraria e desapareceria do mesmo modo como apareceu e deixaria todo mundo com um ponto de interrogação na cabeça. Ninguém saberia explicar por não saber o que é poesia. Demoraria ainda muito tempo até que se percebesse que a poesia daqueles escritos antigos era a poesia que existia dentro deles mesmos o tempo todo, porque todo homem é poeta por natureza mesmo que não saiba ser, somente pelo fato de ter sentimentos.

E então a poesia brotaria aos montes no coração de todos e todos colocariam seus versos para fora. Talentos contidos apareceriam e fariam sucesso com suas poesias; descobririam-se descendentes de poetas da era pré-apocalíptica e aqueles que já sabiam da existência da poesia há muito tempo mas não tinham coragem nem oportunidade de se expressar com seus trabalhos desprezados e incompreendidos pela sociedade teriam então o seu valor.

E tudo isso se deveria a um punhado de manuscritos velhos que seriam vendidos a um multi-milionário colcionador a preço de ouro ou doados para um grande museu histórico. O dia de sua descoberta seria o feriado mundial para a comemoração do Dia da Poesia.

Nem preciso falar que tais escritos são as poesias do meu caderno de poesias pessoais, né? Chega a ser até engraçada a minha imaginação.

Minhas poesias podem não ter aquelas estruturas que muitos poetas usam; as rimas podem ser pobres, as frases mal colocadas, talvez, mas eu gosto de pensar nelas como uma obra de arte, simplesmente pela sensação que me dão quando as escrevo: às vezes de dor, de alegria, de alívio, de poder, enfim, de ser um 'ser alguém' ". (Patricia, 30/11/97)


Nossa, juro que eu nunca usei drogas pesadas e, portanto, não estava sob o efeito de nenhuma delas quando escrevi isso... Imaginação fértil e lunática. Acho que não mudei muito desde então. Continuo sendo meio lunática, como só os românticos conseguem ser...

Ah, o caderno de poemas, esse há anos que eu não sei mais por onde anda. Já procurei em todos os cantos e não encontrei. De repente, já está até enterrado para ser encontrado pela posteridade pós-apocalíptica...

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