quarta-feira, 18 de julho de 2007

Até quando?


Estamos nós aqui direto do país em que se arrasta criancinhas penduradas do lado de fora do carro por vários quilômetros de distância e depois se esquece de tudo caindo na farra carnavalesca; direto do país que luta numa verdadeira guerra contra o tráfico, mas que esquece de tudo para catarticamente torcer pela vitória do Brasil nos jogos panamericanos (aliás, repararam como a mídia parou de noticiar qualquer tipo de violência no Rio desde mais ou menos uma semana antes do início dos Jogos? É como se a cidade de repente, do nada, se tornasse a mais linda e segura do Brasil).

Estamos aqui direto do país que peca pela omissão, pela negligência, pela falta de memória coletiva. Menos de dez meses depois de um acidente aéreo que matou 154 pessoas e causou uma crise no sistema de aviação brasileira que dura até hoje, acontece mais um , o maior deles, em São Paulo, acidente que além de não ter deixado sobreviventes entre os 180 ocupantes do avião, ainda matou gente em terra.

Assusta sim, porque aconteceu bem aqui na porta de casa, por assim dizer. Mas o que assusta mais é saber que essas pessoas morreram de morte que podia ter sido evitada, porque já se sabia que a pista do aeroporto de Congonhas não era lá muito confiável em dia de chuva e não se fez nada de realmente concreto pra resolver o problema. Omissão, negligência. Um dia antes, um avião derrapou na pista, e outros mais já haviam derrapado antes, em dias e anos anteriores, como que já antecipando que algo pior poderia acontecer. E não se fez nada.

Agora, como é de se esperar, ficamos pensando nas pessoas que perderam parentes e amigos nesse acidente: pais e mães que perderam os filhos ou filhas; filhos que perderam pais; amigos que perderam amigos, enfim...

E também tô pensando no que pensaram as pessoas do avião e do prédio em que ele se chocou quando perceberam que iriam morrer: será que perceberam mesmo? Será que a gente tá preparado pra morte quando ela vem pra gente? Será que essas pessoas sofreram pra morrer ou nem sentiram? Será que a gente vai continuar passando por essas situações absurdas, de falta de segurança no ir e vir em todos os sentidos; de falta de condições de vida digna com emprego e moradia pra todo mundo? Vamos continuar vivendo com um dos piores níveis de qualidade educacional do mundo, com a corrupção que assola o serviço público e privado em todo país de maneira ridícula? E vamos continuar não fazendo nada, assistindo a tudo como um bando de alienados?

Tanta coisa passou pela minha cabeça essa noite que até perdi o sono... acordei pensando em tudo isso e no que eu poderia fazer pra não ser mais uma alienada, mais uma desmemoriada. Acho que de certa forma já estou fazendo, ou tentando humildemente fazer quando exerço a minha função de professora e educadora na escola pública em que trabalho. Entendo que o meu papel é o de buscar fazer com que esses adolescentes adquiram a consciência crítica que todo cidadão precisa ter para viver de maneira ativa em sociedade. É uma missão difícil, mas faz parte da minha função. É o que vou procurar fazer, da maneira mais honesta possível.

Cada um tem que buscar a sua forma de se revoltar contra tudo isso que acontece de baixo dos nossos narizes sem que aparentemente possamos fazer nada para mudar. O que a gente não pode é continuar esperando que situações absurdas gerem sofrimentos irreversíveis como esse e outros.


E pensar que pessoas vivas e saudáveis de repente tornam-se apenas lembranças...


Nenhum comentário: