Ando pensando muito na USP ultimamente e em tudo o que vivi lá. Uma das melhores épocas da minha vida, sem sombra de dúvida. Estudar na USP foi um marco pra mim. Impossível continuar sendo o mesmo ser humano depois de passar por lá.
Aprendi tanta coisa lá que fica difícil dizer o que foi mais importante. Estudei, trabalhei e morei dentro do campus, e em cada espaço ocupado coisas novas foram acontecendo a cada dia. Mas acho que acima de tudo aprendi a respeitar e a conviver com todos os tipos de pessoas lá dentro, principalmente a comunidade gay. A USP é provavelmente o lugar que comporta o maior número de gays e lésbicas por metro quadrado no Brasil. Assumidos e enrustidos. Aprendi que nem todo gay é igual, como a TV muitas vezes cansou de mostrar através dos estereótipos afeminados e masculinizados demais.
Aprendi a conviver pacificamente com pessoas que não acreditavam na existência de Deus, o que é bem comum num ambiente em que a Ciência reina absoluta. Eram pessoas que defendiam teorias filosóficas para provar que Deus é uma fraude da humanidade e uma invenção das religiões, para talvez confortar os nossos corações da angústia de não saber o que acontece depois da morte.
Aprendi a apreciar e entender a poesia de grandes mestres como Chico Buarque, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e outros; a entender e amar mestres da ficção como João Guimarães Rosa, Machado de Assis, José Lins do Rêgo.
Me deliciei com as viagens literárias das aulas do Alfredo Bosi e do Alcides Villaça. Me lembro que o Villaça fumava feito uma chaminé dentro da sala de aula, sem cerimônia nenhuma. Chegava a ser surreal ver um professor fumando daquele jeito na frente de mais de cem alunos. O Bosi começava a aula falando de Oswald de Andrade e terminava na literatura do Brasil-colônia, do padre José de Anchieta, mas nunca perdia a linha do raciocínio. Me lembro dele cochilando no meio da apresentação de um grupo de seminário. Pescava legal. Só que o impressionante é que depois ele fazia os comentários direitinho sobre as apresentações dos grupos, sem se perder do tema de nenhum. Mas que parecia que ele estava dormindo, isso parecia.
Me entediei com as aulas de lingüistica. Era a matéria na facul que mais se aproximava das exatas. Talvez por isso eu não gostasse principalmente das aulas de sintaxe.
Aprendi a gostar de cinema latino através do curso de espanhol, cuja língua eu aprendi a falar e escrever bem mal, só pro gasto mesmo. Lembro bem da minha professora de espanhol mais amada, Maite Celada. Argentina. Era possível sentir o amor pelo magistério transbordando dos seus olhos.
Ah! As aulas de Latim no primeiro ano. As aulas daquela professora já idosa, Ingeborg (Não lembro se é assim que se escreve o nome dela). A gente carinhosamante a chamava de Ing. Ela era tradicionalíssima, mas eu adorava as aulas dela. Logo ficou doente e foi substituída pela Elaine, fanática torcedora do Palmeiras, ótima professora e amiga de todos os alunos.
O Nea (Núcleo de Educação de Adultos), onde trabalhei por três anos e meio. Posso dizer que foi ali que o meu caminho profissional no magistério começou a ser traçado. Comecei ali mesmo a aprender como um bom professor deve ser. E como não deve ser. Um grupo de professores mais do que unido pro que desse e viesse. Foi lá também que eu conheci pessoas especialíssimas, das quais conservo a amizade até hoje.
Finalmente, o Crusp (Conjunto Residencial da USP), onde morei por três anos e meio. Que saudade das noites conversando com o Charles, a Ghis e a Aninha; das risadas e dos choros; das crises estéricas de TPM da Ghis, que chegou a quebrar o interfone do apartamento porque não agüentava mais ouvi-lo tocar; das aulas de Latim nas noites de terça em que nos reuníamos o Charles, a Roberta e eu para estudarmos as difíceis declinações das palavras latinas; das visitas que às vezes o Gabriel "Glitter" fazia ao nosso ap; me lembro do jantar que ele preparou lá e que no momento em que ia ser servido, apareceu uma barata voadora enorme no meio da sala e todo mundo saiu correndo. Perdi até o apetite nesse dia. Me lembro daquela festa de improviso que a gente fez no apartamento, em que eu me entupi de caipirinha e no outro dia tive a maior ressaca da minha vida até hoje; e da Ghis, "alegre", dançando o "Ring ring" do ABBA no meio da sala.
Foram muitos bons momentos. Sei que vou guardar todos no meu coração, mas é preciso viver o presente. Ah, o presente...
Nenhum comentário:
Postar um comentário