domingo, 25 de março de 2007

“ Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior” (Pena - O Teatro Mágico)



Difícil descrever em palavras o que é um show do Teatro Mágico. São cinco meses de paixão pura e simples, daquelas que fazem o coração bater acelerado e a gente seguir o ente amado por onde quer que ele vá.
Amor ao primeiro show. Foi isso o que senti naquele outubro Dia das Crianças de 2006. Dia mais conveniente para voltar a ser criança não poderia existir. E foi assim.
Como eu me sentia antes de conhecer o TM? Basta dizer que umas duas semanas antes eu havia marcado uma consulta com um psiquiatra, porque estava me sentindo muito pior do que o verme do cocô do cavalo do bandido: sendo massacrada no meu trabalho, sofrendo de uma solidão e carência afetivas fora do comum, me achando a mais feia e vil das criaturas.
Não fui à consulta. Fui ao show do TM, no Parque Central de Santo André. Fomos minha irmã, meu cunhado e eu e encontramos lá a turma que havia nos convidado. Chegamos quando o show já havia começado. Estava tocando “Ana e o Mar” “por que a gente nunca sabe de quem vai gostar...” , música que fala sobre os amores pouco convencionais e de como a gente não tem controle sobre o amor.
Ficamos ainda desconfiados, ouvindo e gostando do que estávamos ouvindo, enquanto a galera se descabelava, cantando as letras das canções que vieram a seguir e nós nos admirando: “caramba, o povo sabe cantar todas as músicas e a gente nem sabia da existência desses caras de lugar nenhum “
Enquanto o show rolava, dei uma olhada ao redor. Uma chuva fina que de vez em quando caía, muita gente concentrada na frente do palco. Nós atrás. Centenas de casais do lado: heteros e homos. Várias pessoas fazendo apresentações de malabarismo. Rostos pintados, bolhas de sabão.
A juventude reunida, alegria estampada no rosto, pessoas se abraçando e se beijando o tempo todo. Cheiro de baseado no ar. Parecia um pedaço do Festival de Woodstock acontecendo ali. Só faltava todo mundo tirar a roupa, sair correndo pelado entregando flores para as pessoas.
Uma paz enorme percorreu o meu corpo. Eles começaram a tocar “O anjo mais velho”, e pessoas que não se conheciam se abraçavam e cantavam o refrão: “Só enquanto eu respirar, vou me lembrar de você”. Lágrimas de emoção que rolavam do rosto de algumas pessoas enquanto o Fernando dava uma pausa na música pra dizer: “esse é o momento de cada um olhar pro outro do lado e dizer aquilo que está sentindo, porque nós só temos esse instante para dizer o quanto o amamos, até porque o amanhã pode não existir mais. Então esse é momento de dizer: Eu te amo! Esse é o momento de abraçar o outro, esse é o momento de olhar nos olhos do outro e perguntar 'e aí, a gente tá junto ou não tá?' Esse é momento de mostrar o que sentimos...e... eu aproveito para apresentar agora as pessoas mais importantes desse show. E com vocês: Vocês!"
Naquele momento eu percebi que não estava diante de um show qualquer nem de uma banda qualquer. Depois que começou a tocar “Camarada d’água” eu tive certeza de que meus dias não seriam mais os mesmos. “Camarada, donde vem essa febre, nossa alegria breve por enquanto nos deixou; camarada, viva a vida mais leve, não deixe que ela escorregue, que te cause mais dor.”
Essa música passou a ser o meu hino. O símbolo musical do “no stress”, do desencane, porque não dá mesmo para viver a vida como se o peso do mundo estivesse nas suas costas. “Viver a vida mais leve” passou a ser o meu lema a partir de então.
Nunca vou me esquecer que no momento dessa música, chuva e sol se misturaram e um arco-íris enorme apareceu envolvendo o palco, e lá atrás da galera, um pôr-do-sol magnífico começou a dar o ar de sua graça. Mágico.
A apresentação que misturava teatro, música, circo e poesia. Tudo numa coisa só. E a gente que pensava que iria assistir somente a uma apresentação teatral...
Os bonecos trapezistas, Gabi Veiga e Roberval, fazendo as suas malabarices. Impossível tirar os olhos da Gabi enquanto ela se enroscava e deslizava no tecido como quem fazia amor com ele, ao som de “A fé solúvel”: “que o teu afeto me afetou é fato, agora faça-me o favor”; ou do Roberval, exibindo-se no vai-e-vem do trapézio, usando aquela roupa coladinha no corpo, deixando meninas e meninos com o olhar teso (e o resto também), ao som do refrão de “Pena”: “Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior”.
Saí desse show com uma camiseta e um CD debaixo do braço, e com um sentimento maravilhoso de que a vida valia a pena; sentimento que só aumentou ao longo dos meses e dos diversos outros shows em que começamos a ir, sendo de graça ou não.
Viver é bom demais! Teatro mágico é vida em forma de arte...definitivamente. É essa a grande mensagem que eles passam: a vida é um palco, nós somos os artistas que estamos representando papéis o tempo todo – no trabalho somos um personagem; em casa, outro; com os amigos, outro; no amor, outro. O TM mostra a vida nos seus shows, sim, com suas dores e delícias.
Bom, mas e a depressão que quase me pegou? Cadê? Nem me lembro mais. Hoje eu sinto que sei que sou um tanto bem maior, mesmo. A vida corre em minhas veias e rega o meu coração.

Site do TM: http://www.oteatromagico.mus.br/


PS.: Mal posso esperar pelo show de hoje à noite...

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