sábado, 29 de março de 2008

Sonhar é preciso



Da Aurora Até o Luar
Arnaldo Antunes
Composição: Arnaldo Antunes / Dadi Carvalho


Quando você for dormir
Não se esqueça de lembrar
Tudo que aconteceu
Da aurora até o luar


Olho de janela
Nuvem de algodão
Pele de flanela
Sopa de vulcão


Borda de caneca
Bola de papel
Ferro na boneca
Lágrima de mel


Toda noite lembra o que aconteceu de dia
Sonha para o sono vir

Quando você for dormir
Quando você se deitar
Deixa o pensamento ir
Sem ter nunca que voltar


Música vermelha
Pássaro de flor
Chuva sobre a telha
Beijo de vapor


Riso no escuro
Lua de beber
Voz detrás do muro
Medo de morrer


Toda noite cria o que acontecerá de dia
Para o novo dia vir


A letra dessa música fala sobre uma coisa que parece que as pessoas andam esquecendo de fazer ultimamente: sonhar. Sonhar acordado. Pior, são justamente os mais jovens os que mais estão sofrendo do mal da falta de sonhar.

Sei que o pior defeito que um professor pode ter é ser pessimista, mas quando entro na minhas salas de oitava série, a impressão que eu tenho é que nós estamos formando seres alienados e apáticos, que mais tarde serão adultos ignorantes e imaturos. Se perguntamos o que sonham ser quando crescerem, respondem sacudindo os ombros e fazendo cara de "sei lá", ou fazem como dois dos meus alunos já disseram pra mim: "Ah, sôra, vou ser bandido!"

Claro que eles não tem culpa. Para muitos, a realidade é a seguinte: o pai tá desempregado e fica afogando as mágoas no bar; a mãe, quando o aluno ou aluna tem mãe, às vezes trabalha o dia inteiro e chega só à noite, e no momento em que deveria dar atenção pros filhos,vai cuidar dos afazeres domésticos, ou simplesmente prefere ver a novela das oito e manda calar a boca o menino que quer conversar sobre o que fez na escola.

Nos casos mais graves, o pai tá preso, o tio é traficante, a mãe é uma puta bêbada, e a criança reflete na escola a realidade que vê em casa e nas ruas. Muitos são filhos e filhas de mães prematuras, ou seja, aquelas que engravidaram ainda adolescentes, nos anos 90. Talvez até por conta disso, muitos também são criados por avós. São absolutamente carentes de afeto familiar, portanto. Alguns alunos podem ser vistos vendendo bala ou pedindo esmola em faróis perto dali.

Vivendo realidades tão adversas, fica difícil ter expectativa de futuro, quanto mais expectativa de futuro positiva.

Esses alunos e suas famílias convivem com necessidades imediatas, onde é o presente que importa. Sonhar é artigo de luxo: viver é preciso, sonhar não é preciso.

E a escola e o professores nisso tudo? Trata-se de um desafio enorme, e a escola passa nesse momento por uma séria crise de identidade. Mas esse é um assunto pra outro post.

Sou pessimista? Não sei! Sei que continuo sonhando e é isso que me faz seguir em frente. Sou como a flor do Drummond, tentando furar o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Fica pelo menos a beleza poética da canção de Arnaldo Antunes, até pra mostrar que eu não sou a única que ainda sonha.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Entre o ser e o querer ser


Às vezes tanta coisa me vem à cabeça ao mesmo tempo e eu tenho vontade de escrever tudo aqui. Mas como enlaçar as palavras que batem e voltam no cérebro como aqueles carrinhos de brinquedo? Queria ser tanta coisa, mas sou apenas eu mesma, alguém procurando fazer as coisas direito, mas sempre errando enquanto tenta. E nunca deixando de tentar. Nada mais humano.
Isso que escrevi me fez lembrar um conto lindo do Machado de Assis, "Um homem célebre", que fala justamente sobre você querer ser uma coisa que você não é, e desprezar a sua própria essência, embora seja bela também. Pestana, o protagonista do conto, tem enorme talento para compor modinhas (as polcas, muito populares no séc. XIX), mas queria mesmo era ser um grande compositor clássico, como Mozart e outros. Mais ou menos como você querer ser um Tim Maia mas ser só Maurício Manieri, entendeu? Bom, para se inspirar, ele tem na sua sala o retrato de seus mestres. Por vezes, tem acessos de inspiração e, quando se senta ao piano e começa a tocar, o que acaba saindo é sempre uma... polca.
Há duas passagens que gosto muito. A primeira mostra Pestana em sua casa, tentando encontrar inspiração para compor o seu sonhado clássico. Inquieto, busca inspiração nas estrelas do céu e nos retratos de seus mestres e , ao mesmo tempo, divaga em pensamentos...

"Entre meia-noite e uma hora, Pestana pouco mais fez que estar à janela e olhar para as estrelas, entrar e olhar para os retratos. De quando em quando ia ao piano, e, de pé, dava uns golpes soltos no teclado, como se procurasse algum pensamento, mas o pensamento não aparecia e ele voltava a encostar-se à janela. As estrelas pareciam-lhe outras tantas notas musicais fixadas no céu à espera de alguém que as fosse descolar; tempo viria em que o céu tinha de ficar vazio, mas então a terra seria uma constelação de partituras. Nenhuma imagem, desvario ou reflexão trazia uma lembrança qualquer de Sinhazinha Mota [uma de suas fãs], que entretanto, a essa mesma hora, adormecia, pensando nele, famoso autor de tantas polcas amadas. Talvez a idéia conjugal tirou à moça alguns momentos de sono. Que tinha? Ela ia em vinte anos, ele em trinta, boa conta. A moça dormia ao som da polca, ouvida de cor, enquanto o autor desta não cuidava nem da polca nem da moça, mas das velhas obras clássicas, interrogando o céu e a noite, rogando aos anjos, em último caso ao diabo. Por que não faria ele uma só que fosse daquelas páginas imortais?"


A outra me lembrou muito os dias atuais. Pestana, como compositor famoso de polcas, mantem contrato com um editor de partituras (naquele tempo, obviamente, ainda não existiam as grandes gravadoras de discos, nem muito menos cds, então vendia-se as partituras impressas e quem soubesse tocar algum instrumento, tocava nos eventos festivos). Pestana compõe suas polcas por encomenda e na hora de apresentá-las ao editor, leia o que acontece:
"Veio a questão do título. Pestana, quando compôs a primeira polca, em 1871, quis dar-lhe um título poético, escolheu este: Pingos de Sol. O editor abanou a cabeça, e disse-lhe que os títulos deviam ser, já de si, destinados à popularidade, ou por alusão a algum sucesso do dia, — ou pela graça das palavras; indicou-lhe dois: A Lei de 28 de Setembro, ou Candongas Não Fazem Festa. — Mas que quer dizer Candongas Não Fazem Festa? perguntou o autor.

— Não quer dizer nada, mas populariza-se logo.

Pestana, ainda donzel inédito, recusou qualquer das denominações e guardou a polca, mas não tardou que compusesse outra, e a comichão da publicidade levou-o a imprimir as duas, com os títulos que ao editor parecessem mais atraentes ou apropriados. Assim se regulou pelo tempo adiante.

Agora, quando Pestana entregou a nova polca, e passaram ao título, o editor acudiu que trazia um, desde muitos dias, para a primeira obra que ele lhe apresentasse, título de espavento, longo e meneado. Era este: Senhora Dona, Guarde o Seu Balaio.

— E para a vez seguinte, acrescentou, já trago outro de cor.

Exposta à venda, esgotou-se logo a primeira edição."


Os produtores de hoje fazem exatamente isso com os artistas em início de carreira: mudam seus nomes e os nomes de suas músicas para torná-las mais atraentes ao grande público. Machado de Assis atualissímo e, como sempre, revelador como ninguém dos segredos da essência humana. Me identifiquei de cara com a personagem principal.


Eu queria ter talento pra ser escritora, desde criança sempre quis ser. Sempre admirei os meus mestres Manuel Bandeira, Machado de Assis, Guimarães Rosa e outros, e sempre me imaginei escrevendo inspirada neles. Mas tudo que eu sempre consegui escrever só versa sobre mim mesma, em conteúdo encontrado nos meus diários escritos à caneta nas agendas ou cadernos dados por outros. Hoje, reflexo da era virtual, esses escritos egocêntricos são divulgados via blog. Fazer o quê, sou mais um Pestana Manieri da vida.
Quem tiver curiosidade de ler o conto, pode encontrá-lo na íntegra neste site: http://www.gargantadaserpente.com/coral/contos/massis_celebre.shtml , ou pode procurar um exemplar do livro que eu tenho em casa, livro em aparecem outros excelentes e famosos contos do mestre Machado (O alienista, A Missa do Galo, A cartomante, O Espelho etc.) , Machado de Assis - Contos, da coleção L&PM POCKET.


sexta-feira, 14 de março de 2008

Em sua homenagem


"Aconteceu quando a gente não esperava.
Aconteceu sem um sino pra tocar.
Aconteceu diferente das histórias,
os romances e as memórias têm costume de contar.
Aconteceu sem que o chão tivesse estrelas.
Aconteceu sem um raio de luar.
Aconteceu sem que o mundo agradecesse,
sem que as rosas florescessem,
sem um canto de louvor.
Aconteceu sem que houvesse nenhum drama.
Só o tempo fez a cama
como em todo grande amor."

(Péricles Cavalcanti)


Ela teria todos os motivos do mundo para enlouquecer, mas lida com todas as adversidades da vida com racionalidade e, principalmente, serenidade. Pesa todos os prós e contras antes de tomar qualquer decisão e, como ela mesma disse uma vez para mim, molha o travesseiro de tanto chorar, mas no final consegue que tudo dê certo.

Acho que ela só me trocaria pelos três gatos que tem em casa, de quem cuida como se fossem os filhos que ainda não tem. Aliás, eles são os únicos motivos pra ela me dar alguma bronca: "Não joga fumaça de cigarro na Bruna!" ou "não bate assim na bunda dela". Confesso que às vezes "judio" dos bichinhos só pra vê-la ficar brava. Eu adoro as caras e bocas que ela faz sempre que alguém fala de gatos ou sempre que aparecem imagens de bichanos ou outros bichos fofos na TV.

Ela também pega no meu pé quando bebo um pouco além da conta, tanto que diminuí as cervejas por causa dela. Tá certa, fica preocupada porque quase sempre depois eu vou dirigir.

Sei que quando ela olha pra mim, acredito na existência do amor verdadeiro. A vida fica mais leve porque ela está comigo segurando a minha mão. O seu sorriso vem com bônus porque seus olhos sorriem junto com os lábios numa ternura inexplicável. Quando me abraça, o faz como se fosse a última vez, com uma entrega absoluta.

Me respeita como nunca fui respeitada nos meus relacionamentos anteriores. Por trás da sua aparente fragilidade, se esconde alguém com a força e a independência que só quem já sofreu muito na vida é capaz de ter. E é essa força que ela procura passar pra mim nos momentos em que penso que nada está dando certo.

A verdade é que me deparei com um tipo de amor diferente desta vez: amor à prestação, que se constrói aos poucos. Claro que é bom, e é fato que já não consigo mais me imaginar sem tê-la comigo. E sei que um dia vou poder dizer-lhe olhando nos olhos sem sombra de dúvida nem medo algum: EU TE AMO.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Concordo plenamente!

PRA QUE SERVE UMA RELAÇÃO?

por Dr. Drauzio Varela, médico cancerologista e escritor

Definição mais simples e exata sobre o sentido de mantermos uma relação?
"Uma relação tem que servir para tornar a vida dos dois mais fácil”.Vou dar continuidade a esta afirmação porque o assunto é bom, e merece ser desenvolvido. Algumas pessoas mantêm relações para se sentirem integradas na sociedade, para provarem a si mesmas que são capazes de ser amadas, para evitar a solidão, por dinheiro ou por preguiça. Todos fadados à frustração. Uma armadilha.
Uma relação tem que servir para você se sentir 100% à vontade com outra pessoa, à vontade para concordar com ela e discordar dela, para ter sexo sem não-me-toques ou para cair no sono logo após o jantar, pregado.
Uma relação tem que servir para você ter com quem ir ao cinema de mãos dadas para ter alguém que instale o som novo, enquanto você prepara uma omelete, para ter alguém com quem viajar para um país distante, para ter alguém com quem ficar em silêncio, sem que nenhum dos dois se incomode com isso.
Uma relação tem que servir para, às vezes, estimular você a se produzir, e, quase sempre, estimular você a ser do jeito que é, de cara lavada: uma pessoa bonita a seu modo.Uma relação tem que servir para um e outro se sentirem amparados nas suas inquietações, para ensinar a confiar, a respeitar as diferenças que há entre as pessoas, e deve servir para fazer os dois se divertirem demais, mesmo em casa, principalmente em casa.
Uma relação tem que servir para cobrir as despesas um do outro num momento de aperto, e cobrir as dores um do outro num momento de melancolia, e cobrirem o corpo um do outro, quando o cobertor cair.
Uma relação tem que servir para um acompanhar o outro no médico, para um perdoar as fraquezas do outro, para um abrir a garrafa de vinho e para o outro abrir o jogo, e para os dois abrirem-se para o mundo, cientes de que o mundo não se resume aos dois.Ah se todo mundo pensasse assim!!!!!

quarta-feira, 12 de março de 2008

Qualquer semelhança não é mera coincidência


"Pão e Circo: com o crescimento urbano vieram também os problemas sociais para Roma. A escravidão gerou muito desemprego na zona rural, pois muitos camponeses perderam seus empregos. Esta massa de desempregados migrou para as cidades romanas em busca de empregos e melhores condições de vida. Receoso de que pudesse acontecer alguma revolta de desempregados, o imperador criou a política do Pão e Circo. Esta consistia em oferecer aos romanos alimentação e diversão. Quase todos os dias ocorriam lutas de gladiadores nos estádios (o mais famoso foi o Coliseu de Roma), onde eram distribuídos alimentos. Desta forma, a população carente acabava esquecendo os problemas da vida, diminuindo as chances de revolta."



Por que será que isso me lembra tanto a política do atual governo da prefeitura de São Paulo em relação à educação?

terça-feira, 11 de março de 2008

Que alívio...




“Todos estes que aí estão atravancando o meu caminho, eles passarão, eu passarinho!”
(Mário Quintana)


Pois é, depois de uma tempestade que durou um mês, parece que finalmente veio a calmaria. E minha mãe me disse lá do alto da sua fé evangélica que às vezes as provas vêm pra poder fazer a gente acordar e que às vezes Deus nos tira algo, ficamos aborrecidos, mas no final nos recompensa trazendo algo melhor do que aquilo que tínhamos. Dito e feito.

Não adianta espernear, chorar, se estressar. Aprenda a lição: não fique triste se você perdeu o Brad Pit agora, vai saber se você não perdeu o Brad pra ganhar a Angelina Jolie depois.

Brincadeiras à parte, o fato é que agora posso dizer que Deus não me esqueceu como eu pensava. E ainda pude aprender uma grande lição: parar no tempo não é bom pra ninguém.

Descobri, durante esse mês, que eu tive um período bravo de hibernação. Não fiz curso nenhum, me acomodei com as "vantagens" de ser funcionária pública; esqueci algumas regras básicas de quem vive numa cidade como São Paulo, que te come pelas beiradas: aqui, quem sai pro vento, perde o assento.

terça-feira, 4 de março de 2008


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Tanta coisa acontecendo e eu praticamente não tenho o que dizer. Tudo tão confuso...
Quero dormir e só acordar quando tudo tiver passado.

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Dormir não é o mesmo que fugir? Sei lá...

Sei que o sistema está travando e eu preciso reiniciar... Reiniciar? De novo?

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Me sinto como uma bolinha de ping-pong

Tô parecendo o mineirin em crise existencial, não sei onqueuetô nem pronqueuvô.

Não é culpa minha desta vez. Raquetes de ping-pong, ou melhor, fatores externos estão embolando o meu caminho.
Ai, quero dormir e só acordar lá na laje de casa, pra ficar cega de tanto ver aquele pôr-do-sol que eu só agora percebi que é lindo.

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