quinta-feira, 26 de junho de 2008

Ainda há esperança


Tô fazendo contagem regressiva para o recesso. Verdade seja dita: estou empurrando esses últimos dias com a barriga e procurando não pensar que no segundo semestre a parada vai ser dura, e sem direito a feriado prolongado.

A Semana passada comecei a dar aulas como eventual numa escola pública municipal da terrinha da Mauá. Quanta diferença! Realidade completamente diferente. Escola organizada, alunos mais disciplinados, mais interessados, e que não chegam à oitava série analfabetos, veja que milagre! Claro que existem os problemas, afinal, nada é perfeito, mas alguma coisa me diz que se eu tivesse começado a minha carreira numa escola assim, talvez eu não estivesse hoje tão desanimada com o magistério.

Pra se ter uma idéia , os alunos nesta escola tem aula de Filosofia na 2a. série. A pivetada aprende a pensar desde cedo. Existem os alunos indisciplinados? Existem, sim. Mas há uma diferença nítida, e eu que sempre dei aulas em escolas-problema consigo perceber rapidinho: a diferença entre a rebeldia própria da adolescência, que é a que encontro nessa escola de Mauá, e a agressividade que às vezes alcança a violência pura e simples, que é a que sempre encontrei desde que comecei a trabalhar nas escolas da prefeitura de São Paulo.

No primeiro dia de trabalho na escola de Mauá, entrei numa 8a. série. Me apresentei, e os alunos vieram me pedir para eu deixar a aula livre, já que na próxima aula aconteceria a prova de ciências. Concordei, e a cena que vi a seguir foi digna de um quadro de Salvador Dali. Os alunos, individualmente, ou em grupinhos, sentarem-se, abriram seus livros e cadernos de ciências e começaram a ESTUDAR. Fiquei só observando. Alguns liam compenetrados, outros iam tomando as lições dos colegas. Me lembrei da época em que eu estudava. Era daquele jeito.

Pensei que isso não existisse mais. Desde que comecei a dar aulas como profissional de carreira, há três anos, foi a primeira vez que vi alunos se sentando e estudando por livre e espontânea vontade dentro da sala de aula.

Tive duas sensações diferentes: a primeira, a de que nem tudo está perdido, graças a Deus. A segunda: a de que existe muita coisa errada na política de educação da prefeitura de São Paulo.

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