sábado, 14 de junho de 2008

Um dia entre o inferno e o céu


Deixei o blog largado, sei disso. Mas a verdade é que me faltou tempo, vontade ou sei lá o que me impediu de passar por aqui.

Meus pais viajaram no dia 31 passado e eu e minha irmã tivemos que assumir as despesas e os afazeres da casa.

Estar só em casa nunca me incomodou antes. Muito pelo contrário, era sinônimo de poder fazer o que quisesse em casa, andar até pelada sem que houvesse alguém pra chamar a atenção. Desta vez, não sei por que raios, ficar sozinha em casa tem sido motivo até para crises nervosas, como a que aconteceu na quarta passada comigo. Nunca me vi num estado de ansiedade tão grande. De repente, andava pela casa desnorteada, com a mão na cabeça. Mil pensamentos vinham ao mesmo tempo sem que eu pudesse organizá-los de maneira lógica. Dei um estalo e pensei: não tô bem. No que tive esse estalo, bateu uma espécie de desespero. Tinha vontade de chorar, mas não conseguia, me sentia sufocada.

O silêncio em volta só fazia piorar a situação. Mas desconfio que não foi a solidão a principal causa dessa crise. Talvez a constatação de que estava sozinha diante de uma angústia já existente tenha feito com que ela aumentasse. Sei o que me causou essa crise: estou desenvolvendo pânico de dar aula em certas classes. Nesse dia eu teria duas aulas numa oitava série que eu detesto e que só entro pra cumprir horário. Lá, me sinto a pior das professoras diante dos piores alunos.

Sei que foi essa a causa da crise porque há umas duas semanas atrás, indo de carro para o trabalho também numa quarta-feira, quase desviei o caminho e fui pra outro lugar assim que lembrei que teria essas duas aulas nessa sala. Tive que fazer uma oração no meio do trânsito afim de poder criar coragem para seguir o caminho rotineiro.

Desta última vez não houve oração que desse jeito. Liguei várias vezes para o celular da Silvia, me sentia aliviada da angústia e da solidão falando com ela, mas ainda não conseguia chorar. Me lembrei que aquele horário de almoço a minha irmã estava livre do trabalho e liguei pra ela. Foi só aí que consegui chorar o que precisava pra tirar o peso de dentro de mim. Liguei para a escola dizendo que não iria chegar para as duas primeiras aulas, justamente as que eu teria na oitava. Consegui me sentir sossegada, mas com a certeza de que o sofrimento só estaria resolvido por aquele dia, outros dias angustiantes como aquele poderiam vir mais pra frente.

Ironicamente, nesse mesmo dia entrei na sala de aula à noite, e ouvi os alunos conversando entre eles que eu era uma das melhores professoras que eles tinham. Senti uma grande satisfação. Uma das alunas chegou a dizer que eu era como arroz e feijão, estava ali todos os dias e no dia em que eu não estava, eles sentiam falta. " A senhora é o nosso feijão com arroz de cada dia". Sorri e respondi: "Vocês são a minha razão de ainda estar no magistério". Saí da escola com um sorriso de satisfação e de dever cumprido.

Mais uma vez, com um gol milagroso aos 47 do segundo tempo, o meu dia foi salvo.

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