quinta-feira, 15 de maio de 2008

Homenagem tardia às mães


Estava eu fazendo uma pesquisa de poemas na internet para o "Dia de quem cuida de mim" variação para o tradicional Dia das Mães, que ocorrerá amanhã na escola (Sim, é isso mesmo, Dia de Quem Cuida de Mim , já que a nossa escola é cheia de alunos que não tem mãe ou se tem, não vivem com os filhos, de sorte que os mesmos são cuidados por tios, tias, irmãos mais velhos, avós, cachorros etc).

Bem, eu dizia que estava fazendo a tal pesquisa, quando me deparei em especial com um poema de um autor português pouco conhecido, Eugênio de Andrade. Li o poema, e quando dei por mim, percebi que algumas lágrimas caíam dos meus olhos. Li pra minha mãe e por pouco não abrimos o berreiro, e olha que eu sou dura na queda pra chorar.

O poema realmente é lindíssimo, e resume bem a idéia de que para as mães, somos sempre crianças inocentes, mesmo que cresçamos e voemos com as aves.



Poema à mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que te traí, mãe!

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...

Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me?
Às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;


ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
"Era uma vez uma princesa no meio de um laranjal..."


Mas - tu sabes! - a noite é enorme e todo o meu corpo cresceu...
Eu saí da moldura, dei às aves os meus olhos a beber.


Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...


Boa noite. Eu vou com as aves!



(Autor: Eugênio de Andrade)



(PS: Silvia e Dan, beijo pra vocês!!)

Um comentário:

Sil disse...

Lindo, lindo, lindo... Retrata bem o relacionamento que se tem com as mães. Uma hora a gente cresce e quer voar, mas para elas, seremos sempre as crianças, os seres indefesos ao qual elas protegem com unhas e dentes. Mãe é tudo, em qualquer sentido!!!
Beijos, Sil