Dizem que finjo ou minto Tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto Com a imaginação. Não uso o coração. Tudo o que sonho ou passo, O que me falha ou finda, É como que um terraço Sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda. Por isso escrevo em meio Do que não está ao pé, Livre do meu enleio, Sério do que não é, Sentir, sinta quem lê ! (Fernando Pessoa)
quinta-feira, 29 de maio de 2008
quinta-feira, 15 de maio de 2008
Homenagem tardia às mães
Estava eu fazendo uma pesquisa de poemas na internet para o "Dia de quem cuida de mim" variação para o tradicional Dia das Mães, que ocorrerá amanhã na escola (Sim, é isso mesmo, Dia de Quem Cuida de Mim , já que a nossa escola é cheia de alunos que não tem mãe ou se tem, não vivem com os filhos, de sorte que os mesmos são cuidados por tios, tias, irmãos mais velhos, avós, cachorros etc).
Bem, eu dizia que estava fazendo a tal pesquisa, quando me deparei em especial com um poema de um autor português pouco conhecido, Eugênio de Andrade. Li o poema, e quando dei por mim, percebi que algumas lágrimas caíam dos meus olhos. Li pra minha mãe e por pouco não abrimos o berreiro, e olha que eu sou dura na queda pra chorar.
O poema realmente é lindíssimo, e resume bem a idéia de que para as mães, somos sempre crianças inocentes, mesmo que cresçamos e voemos com as aves.
Poema à mãe
No mais fundo de ti,
eu sei que te traí, mãe!
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...
Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração ficou enorme, mãe!
Olha - queres ouvir-me?
Às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
"Era uma vez uma princesa no meio de um laranjal..."
Mas - tu sabes! - a noite é enorme e todo o meu corpo cresceu...
Eu saí da moldura, dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...
Boa noite. Eu vou com as aves!
(Autor: Eugênio de Andrade)
(PS: Silvia e Dan, beijo pra vocês!!)
sexta-feira, 9 de maio de 2008
Ao vencedor, as batatas!
Texto 1: Ler o fragmento abaixo, extraído da obra Quincas Borba (1891), de Machado de Assis:
" - Não há morte. O encontro de duas expansões , ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição de sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas."
Machado de Assis (Joaquim Maria M. de A.), jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 21 de junho de 1839, e faleceu também no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1908.
Vocabulário
Supressão: corte; eliminação; desaparecimento.
Transpor: ultrapassar; passar além.
Vertente: declive de montanha.
Inanição: enfraquecimento; debilidade.
Despojo: resto; fragmento
Aprazível: que dá prazer.
Canonizar: declarar santo.
Texto 2
"Anuncia-se a guerra na mídia como se o mundo, ou melhor, o Oriente Médio fosse o palco onde se desenrolará o maior reality show da esfera terrestre. O secretário de Estado norte-americano, Colin Powel, atualmente um dos homens mais televisionados do mundo, declara, em um dos pronunciamentos, que os Estados Unidos já possuem um plano para a exploração do petróleo no Iraque. Ninguém mais duvida de que Saddam Hussein nunca foi a razão principal do conflito, mas, de novo, a maior potência do Ocidente deseja controlar a exploração do petróleo. Por causa do “ouro negro”, o número de soldados que já estão ocupando países em torno do Iraque equivale à população de uma cidade média do Estado de São Paulo, 150 mil pessoas.
Os Estados Unidos da América arrogam-se o papel de guardiães da paz, cujo desempenho quase sempre se fez pelo paradoxo da guerra. [...] A paz que se alicerça na guerra é uma falácia. Somente não o é para as empresas americanas que exploram petróleo, que, segundo o Secretário de Estado, já contam com a garantia de participar do controle do petróleo iraquiano. Da mesma forma, ganha a indústria armamentista, cujo capital cresce proporcionalmente ao número de vítimas." (Correio Popular - Opinião - 14/2/2003)
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Pausa para reflexão
Seria injusto culpar os professores por todas as mazelas do ensino. Há muito a ser feito em infra-estrutura, cursos de formação, material didático ou até mesmo cuidados com a saúde mental e física dos estudantes. Mas premiar o mérito tem se mostrado em várias partes do mundo como um dos recursos para avançar a educação pública. Nenhuma organização, seja ela qual for, consegue prosperar se os mais esforçados não forem reconhecidos. Só os medíocres podem ser contra a premiação do talento. " Gilberto Dimenstein - Folha Online (11/02/08)
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Na praça Dom José Gaspar, piano, calma, tranquilidade, público seleto; na República, rock'n roll pesado; na Av São João, MPB e Teatro Mágico; na Av Ipiranga, o palco das meninas e Bruna Caram encantando com a sua voz maravilhosa (e todo o resto também); no Anhangabaú, ballet e dança contemporânea; no Largo São Francisco, música eletrônica. Em vários pontos da cidade, música, teatro, cinema. Uma verdadeira salada cultural.
Curiosamente, a Paulista, que muitas vezes é palco de tantos grandes eventos, na Virada tira uma folga boa. É como se o restante da cidade dissesse: Paulistinha, fica sossegada, afinal você já aguenta milhões na virada do ano, e daqui a pouco em junho, vai aguentar mais uns milhões na parada do orgulho gay.
Bruna Caram
Composição: Otávio Toledo/J.C.Costa Netto
Amanheceu