quinta-feira, 29 de maio de 2008


No que estou pensando agora?
Sei lá, milhares de coisas vêm ao mesmo tempo. Por exemplo:
Por que as atividades que eu preparo para os meus alunos não dão resultado?
Pra quê sou professora, então?
Por que vivo sempre em busca de algo que não tenho e esqueço de valorizar o que tenho?
Por que o final do ano não chega logo?
Por que não consigo parar de roer as unhas?
Por que resolvi fumar depois de velha e bem informada sobre as coisas?
Por que não consigo ficar feliz pela prefeitura de Mauá ter me ligado hoje me chamando para trabalhar como eventual já que provavelmente vou ganhar um pouco mais como eu queria?
Por que não consigo decidir se quero fazer mestrado?
Por que não consigo decidir se quero fazer outra faculdade?
Por que não consigo decidir se quero sair do magistério?


Tô cansada! Quando é que as férias começam mesmo?

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Homenagem tardia às mães


Estava eu fazendo uma pesquisa de poemas na internet para o "Dia de quem cuida de mim" variação para o tradicional Dia das Mães, que ocorrerá amanhã na escola (Sim, é isso mesmo, Dia de Quem Cuida de Mim , já que a nossa escola é cheia de alunos que não tem mãe ou se tem, não vivem com os filhos, de sorte que os mesmos são cuidados por tios, tias, irmãos mais velhos, avós, cachorros etc).

Bem, eu dizia que estava fazendo a tal pesquisa, quando me deparei em especial com um poema de um autor português pouco conhecido, Eugênio de Andrade. Li o poema, e quando dei por mim, percebi que algumas lágrimas caíam dos meus olhos. Li pra minha mãe e por pouco não abrimos o berreiro, e olha que eu sou dura na queda pra chorar.

O poema realmente é lindíssimo, e resume bem a idéia de que para as mães, somos sempre crianças inocentes, mesmo que cresçamos e voemos com as aves.



Poema à mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que te traí, mãe!

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...

Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me?
Às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;


ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
"Era uma vez uma princesa no meio de um laranjal..."


Mas - tu sabes! - a noite é enorme e todo o meu corpo cresceu...
Eu saí da moldura, dei às aves os meus olhos a beber.


Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...


Boa noite. Eu vou com as aves!



(Autor: Eugênio de Andrade)



(PS: Silvia e Dan, beijo pra vocês!!)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Ao vencedor, as batatas!


Esse é o trecho de uma atividade que preparei há alguns anos, quando ainda trabalhava no núcleo de Educação de Adultos da Faculdadade de Educação da USP. Os textos apresentam nível difícil, mas quem insistir em entender vai perceber as semelhanças existentes entre um e outro. Se é verdade que esse exercício de comparação não serve mais em termos didáticos, pelo menos serve para mostrar porque Machado de Assis é atualíssimo e, portanto, fica justificada a afirmação de que é um autor clássico.


Texto 1: Ler o fragmento abaixo, extraído da obra Quincas Borba (1891), de Machado de Assis:

" - Não há morte. O encontro de duas expansões , ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição de sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas."

Machado de Assis (Joaquim Maria M. de A.), jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 21 de junho de 1839, e faleceu também no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1908.

Vocabulário

Supressão: corte; eliminação; desaparecimento.
Transpor: ultrapassar; passar além.
Vertente: declive de montanha.
Inanição: enfraquecimento; debilidade.
Despojo: resto; fragmento
Aprazível: que dá prazer.
Canonizar: declarar santo.

Texto 2


"Anuncia-se a guerra na mídia como se o mundo, ou melhor, o Oriente Médio fosse o palco onde se desenrolará o maior reality show da esfera terrestre. O secretário de Estado norte-americano, Colin Powel, atualmente um dos homens mais televisionados do mundo, declara, em um dos pronunciamentos, que os Estados Unidos já possuem um plano para a exploração do petróleo no Iraque. Ninguém mais duvida de que Saddam Hussein nunca foi a razão principal do conflito, mas, de novo, a maior potência do Ocidente deseja controlar a exploração do petróleo. Por causa do “ouro negro”, o número de soldados que já estão ocupando países em torno do Iraque equivale à população de uma cidade média do Estado de São Paulo, 150 mil pessoas.
Os Estados Unidos da América arrogam-se o papel de guardiães da paz, cujo desempenho quase sempre se fez pelo paradoxo da guerra. [...] A paz que se alicerça na guerra é uma falácia. Somente não o é para as empresas americanas que exploram petróleo, que, segundo o Secretário de Estado, já contam com a garantia de participar do controle do petróleo iraquiano. Da mesma forma, ganha a indústria armamentista, cujo capital cresce proporcionalmente ao número de vítimas." (Correio Popular - Opinião - 14/2/2003
)

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Pausa para reflexão


"(...)A secretária estadual da Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães, prepara-se para anunciar o pagamento de bônus aos servidores das escolas, do faxineiro ao diretor, a partir basicamente do desempenho dos alunos. Vai comprar uma briga e tanto com os sindicatos --é dúvida se, neste momento, terá o apoio dos maiores interessados, os pais e alunos.
Seria injusto culpar os professores por todas as mazelas do ensino. Há muito a ser feito em infra-estrutura, cursos de formação, material didático ou até mesmo cuidados com a saúde mental e física dos estudantes. Mas premiar o mérito tem se mostrado em várias partes do mundo como um dos recursos para avançar a educação pública. Nenhuma organização, seja ela qual for, consegue prosperar se os mais esforçados não forem reconhecidos. Só os medíocres podem ser contra a premiação do talento. " Gilberto Dimenstein - Folha Online (11/02/08)


Sim, senhor Dimenstein, nada contra premiar o talento dos mais esforçados, claro. Nesse sentido, estou fora do grupo daqueles que o senhor consideraria medíocres. Mas punir os professores e funcionários pelo mau desempenho do restante do alunado é o mais justo se sabemos que muito desse mau desempenho vem dos problemas que o senhor mesmo mencionou em sua coluna?

quinta-feira, 1 de maio de 2008


Virada Cultural: São Paulo fervendo por todos os lados, saindo gente pelos boeiros, como diz o meu cunhado. Pura diversidade, todas as tribos mais uma vez se encontrando.

Na praça Dom José Gaspar, piano, calma, tranquilidade, público seleto; na República, rock'n roll pesado; na Av São João, MPB e Teatro Mágico; na Av Ipiranga, o palco das meninas e Bruna Caram encantando com a sua voz maravilhosa (e todo o resto também); no Anhangabaú, ballet e dança contemporânea; no Largo São Francisco, música eletrônica. Em vários pontos da cidade, música, teatro, cinema. Uma verdadeira salada cultural.

Curiosamente, a Paulista, que muitas vezes é palco de tantos grandes eventos, na Virada tira uma folga boa. É como se o restante da cidade dissesse: Paulistinha, fica sossegada, afinal você já aguenta milhões na virada do ano, e daqui a pouco em junho, vai aguentar mais uns milhões na parada do orgulho gay.

São Paulo, a terra do trabalho, do estresse, do trânsito pesado, é também a terra da variedade cultural. Como disse a cantora Bruna Caram, mantemos com essa cidade maluca uma relação de amor e ódio, contradição normal numa cidade realmente tão cheia de contradições.


Cavaleiro Andaluz
Bruna Caram
Composição: Otávio Toledo/J.C.Costa Netto


Amanheceu
Um elo entre as civilizações
Um novo Aquiles rompe os grilhões
E a cidade vai conquistar
Não lembra bem
De como aprendeu a lutar


Há tanta gente no calcanhar
Um semi-deus em cada portão
Escapar
A Liberdade dá no Japão
Acrópole é outra visão
Que a Vila Olímpia não alcançou
Decifrar
Há tanta esfinge aqui de cristal
Quanto edifício nesse quintal
Que a erva-cidreira já perfumou

Como emboscar
Dianas nesses bosques que há
Os olhos de Afrodite espiar
Nas fontes desse Parque da Luz

Você zarpou
Na costa da Ligúria bateu
Cruza a Paulista e o solo europeu
Virou meu cavaleiro Andaluz

Se embrenhou
Nesses traçados do coração
Ruelas da avenida São João
Escadarão do Municipal
Surpreendeu
Quem nunca sai da Consolação
Que ao menos na imaginação
Um novo mundo existe afinal
Me leva Cavaleiro Andaluz...

A paz sempre há de estar com você...