quinta-feira, 27 de setembro de 2007

A pedra mais alta

Me resolvi por subir na pedra mais alta
Pra te enxergar sorrindo da pedra mais alta
Contemplar teu ar, teu movimento, teu canto
Olhos feito pérola, cabelo feito manto

Sereia bonita sentada na pedra mais alta
To pensando em me jogar de cima da pedra mais alta
Vou mergulhar, talvez bater cabeça no fundo
Vou dar braçadas remar todos mares do mundo

O medo fica maior de cima da pedra mais alta
Sou tão pequenininho de cima da pedra mais alta
Me pareço conchinha ou será que conchinha acha que sou eu?
Tudo fica confuso de cima da pedra mais alta

Quero deitar na tua escama
Teu colo confessionário
De cima da pedra não se fala em horário
Bem sei da tua dificuldade na terra
Farei o possível pra morar contigo na pedra

Sereia bonita descansa teus braços em mim
Não quero tua poesia teu tesouro escondido
Deixa a onda levar todo esboço de idéia, de fim
Defina comigo o traçado do nosso sentido

Quero teu sonho visível da pedra mais alta
Quero gotas pequenas molhando a pedra mais alta
Quero a música rara o som doce choroso da flauta
Quero você inteira e minha metade de volta

(Fernando Anitelli)

PS.: Escrever pra quê? A música e a poesia falam por mim quando as minhas próprias palavras são insuficientes...

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Quase convulsiva-mente


Vou escrever sobre o quê mesmo? Sei lá, acho que vou usar a técnica da escrita por livre associação de idéias e começar a escrever tudo o que me passar pela cabeça do jeito que vier. No que tô pensando agora? Ah, em como sou burra de ir pro centro de São Paulo de carro em plena semana e pegar aquele puta trânsito típico pra assistir a uma assembléia de professores que tem como diretor um manipulador sacana de idéias sacanas.

Tô pensando em como tô com preguiça de voltar a trabalhar depois de ter participado de uma semana de congresso do sindicato cujo diretor é aquele mesmo sacana manipulador de idéias que falei acima. Pensando em como a palestra do Max Haetinger no congresso me deixou confusa em relação ao que penso sobre a minha profissão e ao que de verdade deveria pensar. Pensando no infarte que o Antenor Cavalcante da novela dos oito acabou de ter porque tá estressado. Pensando que daqui a pouco à meia-noite vou ter que ir buscar a minha irmã no centro de Mauá porque ela tá fazendo um curso lá na Av. Paulista e volta tarde pra casa e minha mãe fica preocupada, pra variar.

Pensando em como tô centrada em mim mesma e tô conversando pouco com a minha mãe que se sente sozinha.

O Max me fez voltar a sentir esperança na educação e no que posso realmente fazer no meu trabalho mas parece que essa esperança só durou um dia. Tô passando tempo demais na frente do computador fazendo coisas inúteis como ficar escrevendo essas baboseiras nesse blog inútil. Tá certo que conversar no msn me faz esquecer algumas coisas mas também me faz lembrar de outras. Me sinto meio estranha escrevendo isso, ninguém vai ter paciência de ler, não vão entender nada. Tô pensando em como tem coisa que nem por livre associação de idéias eu consigo escrever porque, sei lá eu porque.

Ai, chega! Tem uma hora em que o cérebro trava! Hora de reiniciar...

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Quanta nostalgia!

(foto tirada em junho de 1982)

Depois de um fim-de-semana de calor de verão, o dia amanheceu frio e chuvoso. As mudanças no clima parecem as minhas mudanças de humor, num dia é a alegria mais eufórica; no outro, a angústia mais profunda. Acordei nostálgica hoje, mais do que o normal.

Tô ouvindo Roberto Carlos agora. Brega pra caralho. Mas pra mim RC é o brega mais chique que existe. Ouço as músicas mais antigas dele e me lembro de quando eu tinha 5 anos e ficava na porta de casa vestida com o meu unifome azul-marinho, daqueles uniformes com duas listras brancas na lateral. Lancheira com suquinho Tang de laranja e um lanchinho de presunto, às vezes uma fruta ou um choquito, que sempre acabava sumindo da minha lancheira por obra de mão grande de algum colega mal intencionado. Sempre levava uma bronca da minha mãe quando chegava em casa, como se tivesse culpa de ter sido roubada.

E lá ficava eu na porta de casa esperando a perua do tio Ramon, que passava na minha casa pontualmente ao meio-dia pra me pegar pra ir pra escolinha de jardim da infância, que ficava no centro de Mauá. E o que o bendito tio Ramon escutava no rádio da perua? Roberto Carlos, claro.

É incrível como algumas coisas que vivemos na infância marcam pelo resto da vida. Escutar Roberto Carlos é como voltar por alguns momentos a esses tempos idos e viver tudo de novo.

Lembrar da vez em que eu tava sentada no balanço do pátio e uma cadeira quebrada escapou e veio direto na minha cara, coisas que só comigo aconteciam; cortei o supercílio e mais uma vez levei uma bronca da minha mãe quando cheguei em casa, como se tivesse culpa de ter sofrido um acidente. Parece que de raiva, mesmo eu estando já medicada, ela veio e tacou um mertiolate no ferimento. Lembrando que naquele tempo mertiolate ardia pra caramba, aff.

A escolinha tinha algumas atividades extraescolares: aula de balé para as meninas e caratê para os meninos. Minha mãe me matriculou no balé, claro. Mas eu queria mesmo era fazer caratê. Na minha cabecinha de cinco anos, não entendia por que tinha que fazer uma coisa que eu não queria só porque dizia-se que era mais apropriado pra meninas.

Me obrigaram a dançar a quadrilha da festa junina com um menino que eu detestava. Bom, a verdade é que sempre fui muito tímida e tinha horror a ser colocada no centro das atenções. Mas, enfim, dancei a famigerada quadrilha. Lembro até hoje da vergonha que senti de vestir aquele vestidinho caipira com sapatinho melissa e meia branca 3/4; o chapéu com tranças postiças e o cabelo escovado pela minha mãe orgulhosa da filha que ia dançar quadrilha pela primeira vez. Minha cara na foto acima não me deixa mentir, cara feia que contrasta com a cara alegre e zombeteira do meu par. Fui voltar a dançar uma quadrilha 26 anos depois, ou seja, na última festa junina. Cheguei a postar sobre isso aqui. Pois é, superei o trauma da primeira quadrilha e me diverti um bocado.

Tudo isso eu escrevi por quê? Ah, porque ouvir Roberto Carlos me faz lembrar tudo isso. Embora agora, depois de escrever isso, eu esteja mais pra Cássia Eller: "quem sabe eu ainda sou uma garotinha esperando o ônibus da escola sozinha, cansada com minhas meias 3/4, rezando baixo pelos cantos, por ser uma menina má".

Quem sabe eu não sou mesmo aquela garotinha, ainda?


segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Roda mundo!


Este blog tá mais largado do que bêbado na sargeta. Por falar em bêbado, parece que é esse o meu caminho do momento. Como diz uma amiga minha: quando estou feliz, bebo; bebo quando estou triste, bebo pra não ficar triste; bebo pra comemorar, bebo pra protestar...

Lado ruim: pegar o carro e dirigir depois disso.

Mas uma vez chegando em casa sã e salva (muito mais salva do que sã, obviamente), é só preparar o comprimido de anador e deixar uma garrafinha de água do lado da cama pra que a ressaca não venha com força total, e ir deitar, sonhar que o mundo dança ao meu redor, duplicado, claro . Aproveito bem esse momento, pois não é sempre que posso ver o mundo bailando só pra mim. E quando os seus giros dançantes são tão frenéticos que não posso suportar, é só caminhar uns passos tortos até o banheiro e jogar na cara do mundo tudo o que ele me negou...
(...)A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira pra lá (...)
(Roda Viva - Chico Buarque)

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Essa música sempre me dá paz...

O descobrimento do Brasil (Legião Urbana)

Ela me disse que trabalha no correio
E que namora um menino eletricista
Estou pensando em casamento
Mas não quero me casar

Quem modelou teu rosto ?
Quem viu a tua alma entrando ?
Quem viu a tua alma entrar ?
Quem são teus inimigos ?
Quem é de tua cria ?
A professora Adélia, a tia Edilamar e a tia Esperança

Será que você vai saber
O quanto penso em você com o meu coração ?
Será que você vai saber
O quanto penso em você com o meu coração ?

Quem está agora ao teu lado ?
Quem para sempre está ?
Quem para sempre estará ?

Ela me disse que trabalha no correio
E que namora um menino eletricista
As famílias se conhecem bem
E são amigas nesta vida

Será que você vai saber
o quanto penso em você com o meu coração ?
Será que você vai saber,
o quanto penso em você com o meu coração ?

A gente quer um lugar pra gente
A gente quer é de papel passado
Com festa, bolo e brigadeiro
A gente quer um canto sossegado
A gente quer um canto de sossego

Estou pensando em casamento
Ainda não posso me casar
Eu sou rapaz direito
E fui escolhido pela menina mais bonita.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

A dança da vida


Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.

João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
(Carlos Drummond de Andrade)



Acho que tô pirando de vez. Outro dia tentei tirar o carro da garagem sem abrir o portão antes. Carro-fantasma... ou será que era eu o fantasma? Ontem saí da sala da quinta série arremessando livro na parede depois de ter lutado em vão para fazê-los calar a boca. À noite me deitei e sonhei que estava trepando com o Reinaldo Gianecchini dentro de uma piscina e com um monte de gente olhando em volta. Valeu porque era o Reinaldo Gianecchini, o único homem pra quem eu daria sem medo de ser feliz. Mas cá entre nós, que sonho estranho.

Antes de dormir eu estava lendo o volume sobre Edvard Munch da coleção dos grandes mestres da pintura da Folha de SP. Dormi e sonhei também com os quadros dele. Aliás, dos pintores que eu ainda não conhecia nessa coleção, ele foi o que mais me impressionou, pela marca profunda de subjetivismo que ele deixou nas suas obras. Me identifiquei com o tom de angústia presente em quase todos os seus quadros. Todo mundo conhece o famoso "O grito", cujo rosto deformado do personagem inspirou a máscara do assassino do filme "Pânico". Mas de todo os que mais me impressionou mesmo foi o que ilustra esse post. O nome do quadro é " A dança da vida".

Esse quadro é quase uma narrativa em forma de pintura. Duas figuras femininas cercam um casal completamente alheio ao que acontece ao redor. O quadro parece falar sobre as fases do amor na vida da mulher. A mulher de branco da esquerda é jovem e simboliza, segundo o livro da coleção, a pureza do primeiro amor, virgem como a cor branca que seu vestido indica. A da direita, mais velha e vestida de preto, simboliza a perda das ilusões amorosas que vem com a experiência. Ela olha para o casal que dança no centro com ar de desaprovação. Por sua vez, o par feminino do casal veste vermelho, a cor da paixão. Ela tá no auge do vigor amoroso e sexual. Vale reparar a conotação fálica que o reflexo do sol na água ao fundo sugere. Dessa forma o quadro sintetiza as fases do amor na vida desde a pureza do primeiro amor, passando pelo auge do vigor amoroso até findar na desilusão. É uma visão pessimista a que o pintor passa, mas faz parte do estilo dele. Até arriscaria o palpite de que na verdade as três mulheres retratadas em primeiro plano na verdade são a mesma mulher representada em três fases diferentes. Achei genial!

Enfim, é assim. Minha vida neste momento é um quadro de Munch.

domingo, 2 de setembro de 2007

Beco sem saída


Diz quem consegue me segurar em casa. Fico tão agitada que a única coisa que me serve é pegar o carro e sair por aí Deus sabe por onde. É o único jeito de aliviar a constante ansiedade e a angústia que às vezes me acomete. Estaria tudo bem se em cada saída eu não desembolsasse um dinheiro que eu não poderia gastar nesse momento.

É aquela velha história: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Não tem muita solução pra mim