Não sei se já comentei isso aqui, mas ser professora também é bom. Trabalho nos turnos da tarde e da noite na escola e sempre costumo dizer que termino o turno da tarde com raiva e, o da noite, sempre com alegria.
Ontem recebi uma homenagam inusitada de um dos meus alunos da quinta série noturna, um senhor de 73 anos. Já falei dele aqui quando postei sobre o discurso de orador que ele fez no dia da formatura de sua turma na quarta série. Comentei também que ele aprendeu a ler e a escrever já depois de idoso. Seu discurso foi um dos mais sábios que já ouvi na vida, pois nele dizia o quanto é importante que se aprenda a ler e escrever para não correr mais risco de, por ignorância, ser enganado pelos outros.
Esse senhor também gosta de escrever poemas. São registros feitos com uma simplicidade muito grande, nada de grandezas literárias, mas também lembro que postei aqui que todo mundo tem um pouco de poeta dentro de si, mesmo que não entenda muito de técnicas de poesia. E ele, embora não domine a técnica e ainda tropece na ortografia e na pontuação, possui o sentimento poético, que a meu ver é o primeiro grande ingrediente para uma pessoa tornar-se poeta ou poetisa de verdade.
Pois bem, ontem ele me apareceu com um poema escrito em minha homenagem. Confesso que fiquei meio sem ação. Pediu para lê-lo em voz alta para o restante da turma. Cedi um espaço antes do fim da aula. O poema, vou reproduzi-lo tal como ele o escreveu:
" Vou fazer uma mensagem a uma jovem sedutora ela é encantadora uma jovem promissora ela é nossa sucessora ela é uma educadora e a nossa professora ela é eficiente com heroísmo e talento uma jovem inteligente e é muito competente na escola que dá aula sempre está presente, seu trabalho não esgota escreve com a mão canhota com a minha rapidez tem o traço de princesa em um castelo de areia parece uma sereia em noite de lua cheia uma jovem preparada não sei se ela é casada, solteira ou separada, só sei que ela é muito educada ela está de parabéns jovem que não tem malícia o nome dela é Patricia promete ser sobre missa a família que ela tem." JC
Meu P.S.: onde se lê "sobre missa", leia-se "submissa".
Às vezes a gente reclama da falta de reconhecimento da nossa profissão, mas quando falamos disso, normalmente pensamos no salário, no plano de carreira, na falta de tempo para formação.
Só que, no fundo, são pequenas atitudes de coração, como essa do meu aluno, que fazem com a gente perceba que o trabalho feito em sala faz a diferença para alguém de maneira positiva.
Tô tão acostumada a ser desrespeitada, humilhada por vezes dentro da sala de aula, que se torna difícil enxergar que o meu trabalho tem importância para alguém em algum lugar daquelas quatro paredes.
Ao mesmo tempo, bate um sentimento de culpa por nem sempre corresponder às expectativas daqueles que esperavam algo de bom de mim.
Ser professor às vezes tem cada surpresa... Graças a Deus.
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