quinta-feira, 24 de abril de 2008

Me desculpem, mas não dá pra calar


Eu sei que ninguém aguenta mais ouvir falar nisso, nem eu inclusive. Só quero manifestar a minha profunda irritação com o jornalismo televisivo pela forma absurdamente exagerada, massante e equivocada com que vem tratando o caso do assassinato da menina Isabella. Tá mais do que na cara a intenção de aproveitar-se da repercussão do caso para aumentar a audiência das emissoras. Poucos são os telejornais que se preocupam em ser imparciais (se é que isso é possível) e transmitir somente aquilo que realmente é notícia sobre o caso.


Até programas que nada têm de jornalísticos, como aquele da Luciana Gimenes (Senhor, dai-me forças para não usar o trocadilho no nome da pessoa), martelam todas as noites os detalhes já excessivamente martelados por toda a mídia. Essa semana, por exemplo, chegaram ao cúmulo de entrevistar pessoas na porta do prédio onde moram os pais de um dos dois suspeitos, perguntando-lhes a sua opinião sobre a culpa ou a inocência do casal supostamente envolvido no crime. Pelo amor de Deus, gente! A que ponto chegamos em falta de ética? Sem falar nas pessoas que ficam plantadas na porta da casa dos suspeitos e dos pais dos suspeitos esperando a oportunidade seja de xingar, de cuspir ou linchar os dois. Não desmerecendo o direito do cidadão de manifestar sua indignação com o caso, mas algo me faz pensar que boa parte dessas pessoas não têm o que fazer da vida.


Não cabe ao grande público, inclusive influenciado pela revolta e comoção causados pela crueldade do crime, julgar se o pai e madrasta são culpados ou inocentes. Deixe-se que a justiça dos homens (ou a de Deus) resolva isso! Muito menos cabe à mídia incitar a opinião pública a condenar ou inocentar quem quer que seja. Como eu já disse, isso chama-se falta de ética. E ética é algo que na minha opinião de mera espectadora é o que mais tem faltado na mídia jornalística. Não é a primeira vez que casos de grande repercussão como esses são tratados com tamanho sensacionalismo.

É sinal claro de que a televisão aberta precisa mudar, precisa parar de tratar os telespectadores como idiotas. A meu ver, parece que a mídia jornalística televisiva, sob o pretexto de dizer-se exercendo a chamada liberdade de imprensa, está tratando os fatos de maneira irresponsável, descomprometida com a sua função social de prestadora de serviços à comunidade, e interessada somente na captação de maior audiência em nome de interesses mercadológicos. (santo capitalismo, Batman!)


Pelo jeito não é só a educação pública que precisa de reforma profunda, não. O tema da falta de ética no jornalismo televisivo dá pano pra manga e poderia até virar tema de mestrado ou doutorado. Nem vou querer me aprofundar mais no assunto, pra não correr o risco de fazer observações equivocadas ou pautadas só no "achismo". Quem se interessar que estude mais a respeito.

Só mais algumas reflexões. Por que é que um caso como esse lá da menina, isolado, causou tanta comoção nacional, se todos os dias um monte de criança morre em condições tão ou mais cruéis do que ela? O que faz com que o caso dela seja diferente de tantos outros iguais em crueldade? Será que não é a mídia jornalística, que de tanto martelar o assunto, muitas vezes apelando para o emocional das pessoas, colocando matérias falando da vida da menina (até com musiquinhas suaves de fundo e coisas do gênero), será que não é essa mídia que influencia o pensamento das pessoas e as fazem encafifar-se só com esse bendito assunto?

Se é verdade que a televisão (agora me refiro não só aos telejornalísticos) reflete o comportamento e os valores de uma sociedade, então o fato de alguns programas subestimarem a inteligência dos seus telespectadores mostra que as pessoas andam alienadas com relação às questões que cercam a sociedade em que estão inseridas. Melhor dizendo, se a televisão trata os telespectadores como alienados, é porque a sociedade em si está alienada. Isso me levaria a pensar que uma das soluções viáveis para a melhoria do que nos é transmitido na TV está na própria sociedade. É pra se pensar.

Como disse o meu amigo Daniel, numa observação mais do que pertinente, enquanto nos comovemos com o caso Isabella, enquanto assistimos entrevistas polêmicas com o pai e a madrasta dela, enquanto observamos perplexos ou alienados as incríveis demonstrações de falta de respeito e ética de alguns programas jornalísticos que tratam do assunto, enquanto tudo isso acontece... vai saber o que estão aprontando lá no congresso nacional pra gente, vai saber...

Um comentário:

Dan... disse...

Pati, concordo em gênero, número e grau!!! Uma fatalidade esdrúxula, diga-se de passagem, que deveria nos emocionar e repensar sobre qual o caminho que a espécie humana está seguindo, está deixando todo mundo irritado.

E o que é pior, a população, que deveria estar cuidando das suas próprias famílias, estão em pleno êxtase, degustando toda essa barbarie.

Nem... zu zu...