quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

contentar-se em gostar do que se faz não é resignar-se com a realidade tal como ela nos é apresentada?


O texto abaixo me deixou realmente confusa... Se alguém quiser comentar, fique à vontade, eu ainda não tenho opinião nenhuma sobre o conteúdo dele. Ou quase nenhuma. Mas que me deixou com a maior pulga atrás da orelha, deixou.


Fazer o que se gosta x gostar do que se faz


A escolha de uma profissão é o primeiro calvário de todo adolescente. Muitos tios, pais e orientadores vocacionais acabam recomendando "fazer o que se gosta", um conselho confuso e equivocado.
Empresas pagam a profissionais para fazer o que a comunidade acha importante ser feito, não aquilo que os funcionários gostariam de fazer, que normalmente é jogar futebol, ler um livro ou tomar chope na praia.
Seria um mundo perfeito se as coisas que queremos fazer coincidissem exatamente com o que a sociedade acha importante ser feito. Mas, aí, quem tiraria o lixo, algo necessário, mas que ninguém quer fazer?
Muitos jovens sonham trabalhar no terceiro setor porque é o que gostariam de fazer. Toda semana recebo jovens que querem trabalhar em minha consultoria num projeto social. "Quero ajudar os outros, não quero participar desse capitalismo selvagem." Nesses casos, peço que deixem comigo os sapatos e as meias e voltem para conversar em uma semana.
É uma arrogância intelectual que se ensina nas universidades brasileiras e um insulto aos sapateiros e aos trabalhadores dizer que eles não ajudam os outros. A maioria das pessoas que ajudam os outros o faz de graça.
As coisas que realmente gosto de fazer, como jogar tênis, velejar e organizar o Prêmio Bem Eficiente, eu faço de graça. O "ócio criativo", o sonho brasileiro de receber um salário para "fazer o que se gosta", somente é alcançado por alguns professores felizardos de filosofia que podem ler o que gostam em tempo integral.
O que seria de nós se ninguém produzisse sapatos e meias, só porque alguns membros da sociedade só querem "fazer o que gostam"? Pediatras e obstetras atendem às 2 da manhã. Médicos e enfermeiras atendem aos sábados e domingos não porque gostam, mas porque isso tem de ser feito.
Empresas, hospitais, entidades beneficentes estão aí para fazer o que é preciso ser feito, aos sábados, domingos e feriados. Eu respeito muito mais os altruístas que fazem aquilo que tem de ser feito do que os egoístas que só querem "fazer o que gostam".
Então teremos de trabalhar em algo que odiamos, condenados a uma vida profissional chata e opressiva? Existe um final feliz. A saída para esse dilema é aprender a gostar do que você faz. E isso é mais fácil do que se pensa. Basta fazer seu trabalho com esmero, bem feito. Curta o prazer da excelência, o prazer estético da qualidade e da perfeição.
Aliás, isso não é um conselho simplesmente profissional, é um conselho de vida. Se algo vale a pena ser feito na vida, vale a pena ser bem feito. Viva com esse objetivo. Você poderá não ficar rico, mas será feliz. Provavelmente, nada lhe faltará, porque se paga melhor àqueles que fazem o trabalho bem feito do que àqueles que fazem o mínimo necessário.
Se quiser procurar algo, descubra suas habilidades naturais, que permitirão que realize seu trabalho com distinção e o colocarão à frente dos demais. Muitos profissionais odeiam o que fazem porque não se prepararam adequadamente, não estudaram o suficiente, não sabem fazer aquilo que gostam, e aí odeiam o que fazem mal feito.
Sempre fui um perfeccionista. Fiz muitas coisas chatas na vida, mas sempre fiz questão de fazê-las bem feitas. Sou até criticado por isso, porque demoro demais, vivo brigando com quem é incompetente, reescrevo estes artigos umas quarenta vezes para o desespero de meus editores, sou superexigente comigo e com os outros.
Hoje, percebo que foi esse perfeccionismo que me permitiu sobreviver à chatice da vida, que me fez gostar das coisas chatas que tenho de fazer.
Se você não gosta de seu trabalho, tente fazê-lo bem feito. Seja o melhor em sua área, destaque-se pela precisão. Você será aplaudido, valorizado, procurado, e outras portas se abrirão. Começará a ser até criativo, inventando coisa nova, e isso é um raro prazer.
Faça seu trabalho mal feito e você odiará o que faz, odiando a sua empresa, seu patrão, seus colegas, seu país e a si mesmo.


Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)
Editora Abril, Revista Veja, edição 1881, ano 37, nº 47, 24 de novembro de 2004, página 22

Um comentário:

Dan... disse...

Tirando a excentricidadde do autor, inconteste, ele desmistifica a idéia de que o trabalho bem feito é aquele que traduz o nosso perfil profissional.

Mas, prestem atenção: Será que o nosso perfil profissional, os nossos sonhos profissionais, podem ser postos em prática no mercado de trabalho atual?!!! Será que existem atividades apropriadas para o nosso perfil?!!!

Sinceramente, o mercado de trabalho, busca um profissional padronizado, de acordo com as funções que ela precisa para continuar se gerenciando. Por isso, é tão complicado encontrar um serviço que consiga unir - satisfação profissional + remuneração desejável.

Ele propõe algo interesante sim... Que sejamos flexíveis para se adequar as exigências de mercado, mas, dando o nosso jeitinho, a nossa marca registrada.

Mas, para isso, é preciso dedicação profissional e descobrir os seus pontos fortes, as suas potencialidades.

No seu caso, mesmo estando desgostosa no o ensino público, você pode ser uma professora reconhecida, a partir do seu trabalho, das suas potencialidades que você pode a vir agregar ao seu trabalho.

É fato, nem todo mundo tem a dádiva de trabalhar com o que se gosta, porque precisa optar, em trabalhar por conta própria, sem o aval do mercado de trabalho, ou abrir a mão dos seus sonhos profissionais para buscar a estabilidade financeira.

Mas, como fazê-lo?!!! É uma descoberta individual, one cada um precisa encontrar estímulos e ferramentas eficientes para desempenhar um bom trabalho.