sábado, 23 de fevereiro de 2008

Tudo numa mesa só


Continua?


Aff, não!! Não ando escrevendo nada que preste ultimamente. A semana foi tumultuada, mas acabou e eu tô aqui, só esperando pra escapar daqui a pouco para os braços de alguém que espero a semana inteira pra abraçar.

O Daniel agora tá aqui em São Paulo, de morada mesmo, e eu fico imaginando que realmente não deve ser fácil largar a segurança do seu lar e da sua terra natal pra se aventurar numa cidade maluca que nem é essa, onde chove demais no verão e as pessoas parecem só pensar em trabalho. Sonho é sonho. A vida só vale a pena quando a gente pode sonhar e correr atrás dos sonhos.

O ano de trabalho já começou com ar de que vai ser daqueles, mas pelo menos já me serviu pra refletir sobre algumas coisas.

Explico: A Silvia pareceu achar engraçado porque eu disse que quando eu me mudar pra morar com ela e com o Dan vou comprar uma mesa com quatro cadeiras porque acho que uma família de verdade não pode passar sem esses móveis. E eu já expliquei que é porque é ao redor da mesa que se promove a integração entre os membros de uma família. E é verdade, as conversas mais produtivas, mais reflexivas, mais engraçadas, acontecem ao redor da mesa de refeições. Às vezes, as maiores brigas e as melhores fofocas também, mas tá valendo. Combinações, decisões, acertos de conta podem ser feitos quando os membros estão reunidos na hora das refeições. Quem tem família média ou grande que se junta de vez em quando na hora do almoço ou do jantar sabe do que tô falando.

É sabido que o maior inimigo desse tipo de integração (além da falta de tempo devido à correria do dia-a-dia) é o hábito de fazer o prato e ir pra frente da televisão, e todo mundo fica mudo e até manda calar a boca se alguém se atrever a puxar uma conversa bem na hora em que os personagens da novela vão revelar aquele segredo. Mas não quero entrar nesse mérito agora.

Escrevi tudo isso porque foi numas dessas conversas de redor de mesa, mais especificamente hoje no café da manhã, que tive a constatação de algo que eu já sabia e já vinha pensando durante a semana, especialmente depois de ter levado o baque de perder minhas aulas e cair de jornada: estou acomodada. É uma constatação óbvia, mas parece que a gente tem necessidade de ouvir isso de outros pra poder levar a sério.

Estou há dois anos e meio comendo grama na prefeitura, mas não movi uma palha pra mudar minha situação de insatisfação. Me acomodei no salário até razoável, não corri atrás de curso nenhum e agora que a água bateu na bunda é que eu sinto o peso da minha acomodação nas costas. Poderia ter feito o curso de inglês, ido atrás de cursos em áreas ligadas à revisão de textos e hoje teria um currículo competitivo pra tentar sair do magistério, que afinal de contas, tem me dado mais desgostos do que satisfação. É fato.

Duas coisas que fazem pensar: situações adversas e conversas na hora das refeições.

Duas lições:
1 - Sofrimento vem pra que a gente possa aprender alguma coisa boa com ele;
2 -Vale a pena desligar a TV mesmo que seja de vez em quando e fazer as refeições na mesa se você tiver uma família pra reunir ao redor dela.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Comentários sobre o post anterior...

Bom, acho que agora consegui formar alguma opinião a respeito do texto do post anterior, o artigo escrito por Stephen Kanits.
Realmente são poucas as pessoas que conseguem ganhar a vida fazendo o que se gosta. Essa semana vi uma reportagem em algum noticiário esportivo sobre o aniversário de 50 anos do jogador Oscar, o maior cestinha da história do basquete. Em um determinado momento da reportagem, ele disse: "Eu não acredito, me pagaram pra jogar basquete!" Ele é privilegiado: foi muito bem pago pra fazer o que amava e fazia bem.
Aliás, diante do artigo de Kanits e do depoimento de Oscar, me veio em mente mais um desses dilemas "tostines" da vida: Oscar fazia bem porque amava a profissão ou amava a profissão porque fazia bem?
Se formos aceitar o ponto de vista do autor do artigo, ficaremos com a segunda opção. Não discordo dele: já que precisamos mesmo fazer uma coisa, por mais chata que seja, que a façamos bem feita. Mas aí me vem outra dúvida: e quando o "fazer bem feito" não depende só e exclusivamente de você?
Falo por mim. Para poder exercer a minha profissão de uma maneira muito bem feita, não dependo só de mim. Dependo da burocracia do sistema educacional de ensino, extremamente desorganizado; e dependo também da colaboração de alunos que muitas vezes não estão nem um pouco interessados em aprender.
Iniciei as minhas aulas a semana passada, comecei a me preparar, conversar com os alunos sobre as aulas, me organizar pra poder trabalhar e, na segunda-feira descobri que três das cinco turmas que eu havia escolhido na atribuição tinham sido escolhidas por um professor titular. Os titulares estão acima dos adjuntos na pirâmide da carreira educacional do município de São Paulo. Eu sou adjunto. Resultado: perdi minhas aulas.
As aulas iniciaram na rede municipal há quase quinze dias, e o quadro de professores nas escolas ainda não está completo, e sofrendo alta rotatividade antes mesmo de o ano letivo esquentar as turbinas. Bagunça total. Essa situação faz com que nós, professores adjuntos, nunca estejamos seguros, porque mesmo que eu escolha as aulas, sempre existirá o risco de algum titular que esteja assumindo o cargo escolhê-las.
Iniciei o ano dizendo que uma das minhas promessas para 2008 seria o de procurar me dedicar mais ao trabalho e, conseqüentemente, aprender a gostar do que faço. Mas levei um balde de água gelada logo no início. Então, fazer bem feito o meu trabalho não depende só de mim.
Sem contar que desde que assumi o cargo de adjunto, enfrento situações-limite complicadas dentro da sala. Já fui agredida verbalmente várias vezes por alunos, ignorada enquanto falava na sala de aula, isso quando não riam da minha cara quando eu falava da importância da escola ou dava bronca por causa da falta de respeito deles comigo e com os próprios colegas; já tive o meu carro riscado; já chorei muitas vezes por me sentir impotente diante da maldita burocracia do sistema educacional e diante da agressividade dos alunos com os quais trabalho ou tento trabalhar. Portanto, mais uma vez enfatizo, fazer o meu trabalho bem feito não depende só de mim, depende de outros também.
Acredito até que realmente é possível aprender a gostar do que se faz por conseqüência de se fazer o traballho de forma muito bem feita, mas a mesma dúvida permanece: essa tese vale quando não se depende só de si mesmo pra fazer o trabalho bem feito?
Só mais um comentário sobre um trecho do texto que me chamou a atenção:
"Empresas, hospitais, entidades beneficentes estão aí para fazer o que é preciso ser feito, aos sábados, domingos e feriados."
Eu diria ao senhor Kanits que hoje em dia a coisa mais difícil que há nas escolas públicas é fazer o que é preciso ser feito. Já faz algum tempo que a instituição escolar deixou de ter uma identidade definida. Somos educadores ou assistencialistas? Estamos lá para distribuir leite, material e unifome ou para ensinar a ler e escrever? Não sabemos mais o que é preciso ser feito.
Continua...

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

contentar-se em gostar do que se faz não é resignar-se com a realidade tal como ela nos é apresentada?


O texto abaixo me deixou realmente confusa... Se alguém quiser comentar, fique à vontade, eu ainda não tenho opinião nenhuma sobre o conteúdo dele. Ou quase nenhuma. Mas que me deixou com a maior pulga atrás da orelha, deixou.


Fazer o que se gosta x gostar do que se faz


A escolha de uma profissão é o primeiro calvário de todo adolescente. Muitos tios, pais e orientadores vocacionais acabam recomendando "fazer o que se gosta", um conselho confuso e equivocado.
Empresas pagam a profissionais para fazer o que a comunidade acha importante ser feito, não aquilo que os funcionários gostariam de fazer, que normalmente é jogar futebol, ler um livro ou tomar chope na praia.
Seria um mundo perfeito se as coisas que queremos fazer coincidissem exatamente com o que a sociedade acha importante ser feito. Mas, aí, quem tiraria o lixo, algo necessário, mas que ninguém quer fazer?
Muitos jovens sonham trabalhar no terceiro setor porque é o que gostariam de fazer. Toda semana recebo jovens que querem trabalhar em minha consultoria num projeto social. "Quero ajudar os outros, não quero participar desse capitalismo selvagem." Nesses casos, peço que deixem comigo os sapatos e as meias e voltem para conversar em uma semana.
É uma arrogância intelectual que se ensina nas universidades brasileiras e um insulto aos sapateiros e aos trabalhadores dizer que eles não ajudam os outros. A maioria das pessoas que ajudam os outros o faz de graça.
As coisas que realmente gosto de fazer, como jogar tênis, velejar e organizar o Prêmio Bem Eficiente, eu faço de graça. O "ócio criativo", o sonho brasileiro de receber um salário para "fazer o que se gosta", somente é alcançado por alguns professores felizardos de filosofia que podem ler o que gostam em tempo integral.
O que seria de nós se ninguém produzisse sapatos e meias, só porque alguns membros da sociedade só querem "fazer o que gostam"? Pediatras e obstetras atendem às 2 da manhã. Médicos e enfermeiras atendem aos sábados e domingos não porque gostam, mas porque isso tem de ser feito.
Empresas, hospitais, entidades beneficentes estão aí para fazer o que é preciso ser feito, aos sábados, domingos e feriados. Eu respeito muito mais os altruístas que fazem aquilo que tem de ser feito do que os egoístas que só querem "fazer o que gostam".
Então teremos de trabalhar em algo que odiamos, condenados a uma vida profissional chata e opressiva? Existe um final feliz. A saída para esse dilema é aprender a gostar do que você faz. E isso é mais fácil do que se pensa. Basta fazer seu trabalho com esmero, bem feito. Curta o prazer da excelência, o prazer estético da qualidade e da perfeição.
Aliás, isso não é um conselho simplesmente profissional, é um conselho de vida. Se algo vale a pena ser feito na vida, vale a pena ser bem feito. Viva com esse objetivo. Você poderá não ficar rico, mas será feliz. Provavelmente, nada lhe faltará, porque se paga melhor àqueles que fazem o trabalho bem feito do que àqueles que fazem o mínimo necessário.
Se quiser procurar algo, descubra suas habilidades naturais, que permitirão que realize seu trabalho com distinção e o colocarão à frente dos demais. Muitos profissionais odeiam o que fazem porque não se prepararam adequadamente, não estudaram o suficiente, não sabem fazer aquilo que gostam, e aí odeiam o que fazem mal feito.
Sempre fui um perfeccionista. Fiz muitas coisas chatas na vida, mas sempre fiz questão de fazê-las bem feitas. Sou até criticado por isso, porque demoro demais, vivo brigando com quem é incompetente, reescrevo estes artigos umas quarenta vezes para o desespero de meus editores, sou superexigente comigo e com os outros.
Hoje, percebo que foi esse perfeccionismo que me permitiu sobreviver à chatice da vida, que me fez gostar das coisas chatas que tenho de fazer.
Se você não gosta de seu trabalho, tente fazê-lo bem feito. Seja o melhor em sua área, destaque-se pela precisão. Você será aplaudido, valorizado, procurado, e outras portas se abrirão. Começará a ser até criativo, inventando coisa nova, e isso é um raro prazer.
Faça seu trabalho mal feito e você odiará o que faz, odiando a sua empresa, seu patrão, seus colegas, seu país e a si mesmo.


Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)
Editora Abril, Revista Veja, edição 1881, ano 37, nº 47, 24 de novembro de 2004, página 22

E aí, faço o quê?


Acho que eu deveria ter incluído um outro item dentro dos planos para 2008: um curso de especialização em alfabetização, por que o que eu tenho de aluno que não sabe ler e escrever, inclusive na 8a. série, é de doer. Parece inacreditável que estejamos vivendo uma situação tão grotesca, mas quem passar por este blog e estiver meio por fora do assunto, pode acreditar em mim: estamos vivendo um caos na educação pública como nunca havia existido. E o que é pior, a total responsabilidade recai sobre nós, professores.

Tô feito doida correndo atrás de material de alfabetização, qualquer material que me ajude a ensinar os alunos defasados a aprenderem a ler e escrever com autonomia, porque copiar atividades da lousa ou de livro eles até sabem, alguns até com letra perfeita, mas boa parte não sabe o que foi que escreveu, ou seja, são alunos que não sabem ler e escrever por si mesmos. Alguns sabem ler um pouco, mas se enrolam na hora de ler palavras que tenham dígrafos ou encontros consonantais. Tô meio perdida porque é como se eu tivesse que preparar aula diferenciada pra cada aluno, já que as necessidades de aprendizagem também variam. A angústia é grande, porque me sinto responsável por eles. Bom, a verdade mesmo é que não sei o que fazer.

Não consigo deixar de pensar que está sendo tirado dessas crianças o direito de sonhar em ser futuramente mais do que elas são agora; o direito de enxergar mundos e possibilidades diferentes através da leitura; o direito de manifestar sua satisfação ou insatisfação com a realidade por meio da escrita, como eu tô fazendo aqui.

Eu não seria o que sou hoje se me tivessem negado o direito de aprender a ler e escrever no tempo certo.

Pois é, a situação é caótica, mas não vou deixar a peteca cair, não. O que tiver ao meu alcance eu vou fazer pra ajudar essas crianças a recuperarem um pouco do tempo perdido.


terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Um ano feito de quartas-feiras de cinzas

O ano começou de fato agora... após o Carnaval
Começaram as aulas e eu consegui ficar esse ano na mesma escola que fiquei o ano passado. Se isso será bom ou ruim, talvez eu já esteja começando a sentir. Na verdade o que me levou a "escolher" essa escola foi o fato de ficar mais perto pra mim, além de eu ter feito bons amigos por lá. Mas em termos profissionais, acho que vou sofrer mais do que sofri o ano passado.
O meu esforço esse ano vai ser no sentido de fazer o melhor possível. Repito: o melhor POSSÍVEL. Preciso desse trabalho e sei que ainda falta muito pra eu gostar dele. Tenho que suportar certas coisas porque realmente preciso dele. Acho que não é difícil entender isso.
Infelizmente, já desde o primeiro dia de aula as impressões foram as piores: a falta de organização é tão grande que eu me pergunto como é que os alunos podem levar a sério uma escola que já se mostra despreparada pra recebe-los desde o primeiro dia.
Antes de mais nada, não quero dizer que estou culpando a escola. Se houve despreparo, foi por conta do próprio sistema de ensino. Em pleno primeiro dia de aula, ainda havia professores na coordenadoria de educação escolhendo aulas, o que fez com que houvesse falta de professores, e conseqüentemente o improviso foi inevitável na tentativa de acolher os alunos e atendê-los.
Pode ser que eu esteja sendo ingênua, mas o certo seria que todos os professores - titulares, adjuntos, comissionados - já estivessem sabendo para qual escola iriam e quais turmas teriam antes do início das aulas. Aqueles três dias de reunião de planejamento que nós temos todos os anos antes do início deveria servir também para organizar a escola de fato para receber os alunos no primeiro dia, com cada professor sabendo em qual sala entraria, nem que fosse preciso esticar esses três dias para quatro ou cinco, mas aí sim faria sentido dizer que planejamos a volta às aulas de verdade.
São tantas incoerências e as soluções seriam tão simples que me deu até vontade de fazer uma complementação pedagógica pra ter a habilitação necessária para pelo menos me tornar diretora de escola e tentar fazer a coisa funcionar, nem que fosse de um jeito oficioso, já que as normas oficiais impostas pelo sistema de ensino só atrapalham desde o início.
Sou ingênua mesmo, mas ainda bem que essas minhas vontades malucas só duram cinco minutos.
O fato é esse. Mais um ano letivo está aí e a única coisa que eu peço a Deus é que eu não seja mais uma dos muitos professores que com certeza pedirão afastamento médico por conta de problemas psiquiátricos causados pelo stress no trabalho.